Um livro fabuloso, de um escritor igualmente fabuloso, o chileno Roberto Ampuero (na foto); mais um que em tempos teve de partir do seu país por causa de Pinochet.
Livro: «Encontro no Azul Profundo», de Roberto Ampuero (Temas e Debates, 330 pp.)
Tantos azuis
Um detective assiste ao assassinato de um potencial cliente. Podia ser o começo de um qualquer romance policial, mas não; é o começo de uma inesquecível aventura, narrada de forma apaixonante, entre as Américas e a velha Europa, sempre em tons de azul.
Cayetano Brulé é um detective cubano exilado no Chile. Uma noite assiste ao assassinato de um homem que com ele marcara um encontro; está sentado ao balcão do «Azul Profundo» e vê o seu potencial cliente ser baleado. É assim que começa uma inesquecível aventura, que o levará a Cuba, ao México e à Suécia, seguindo-se o regresso ao Chile. Sempre em tons de azul, ainda que profundamente diferentes.
Roberto Ampuero [n. Valparaiso, 1953], o autor, saiu do Chile aos 20 anos, como tantos outros perseguidos pela ditadura de Augusto Pinochet. O seu romance é também a história dos exilados e do regresso destes ao Chile pós-Pinochet no poder. Talvez se pudesse traçar algum paralelismo com Luis Sepúlveda, por ambos terem deixado o Chile, por terem idades próximas, até pela passagem pela Alemanha, por escreverem ficção, obviamente; mas da escrita de Ampuero ressalta imediatamente um empenho maior para com a literatura do que em relação aos ajustes de contas com a História e com os norte-americanos, mas sem nunca perder um profundo sentido de justiça.
Cayetano Brulé, um detective muito peculiar («sempre que saía para visitar a amante, lembrava a Suzuki que não metesse a pata na poça diante dos clientes. Não fosse aquele japonês com a cabeça ainda às voltas pelos pisco sours emborcados e a directa da véspera no Kamikaze, confessar que em plena crise económica escasseavam as encomendas e que o seu chefe matava o tempo em assuntos de índole amorosa»), não é uma personagem apenas deste romance. Já tinha surgido no início da década de 1990, e dele Ampuero fala com verdadeiro fascínio. Chegou mesmo a dizer, em entrevistas, que Cayetano lhe sobreviverá, e mais, que lhe fará o epitáfio, algo como «este escritor andou sempre à procura de uma verdade que fosse capaz de convencê-lo». Com «Encontro no Azul Profundo» convence de certeza os leitores mais exigentes. Leitura apaixonante, na senda de tantas outras oferecidas pelos grandes narradores sul-americanos.
Livro: «Encontro no Azul Profundo», de Roberto Ampuero (Temas e Debates, 330 pp.)
Tantos azuis
Um detective assiste ao assassinato de um potencial cliente. Podia ser o começo de um qualquer romance policial, mas não; é o começo de uma inesquecível aventura, narrada de forma apaixonante, entre as Américas e a velha Europa, sempre em tons de azul.
Cayetano Brulé é um detective cubano exilado no Chile. Uma noite assiste ao assassinato de um homem que com ele marcara um encontro; está sentado ao balcão do «Azul Profundo» e vê o seu potencial cliente ser baleado. É assim que começa uma inesquecível aventura, que o levará a Cuba, ao México e à Suécia, seguindo-se o regresso ao Chile. Sempre em tons de azul, ainda que profundamente diferentes.
Roberto Ampuero [n. Valparaiso, 1953], o autor, saiu do Chile aos 20 anos, como tantos outros perseguidos pela ditadura de Augusto Pinochet. O seu romance é também a história dos exilados e do regresso destes ao Chile pós-Pinochet no poder. Talvez se pudesse traçar algum paralelismo com Luis Sepúlveda, por ambos terem deixado o Chile, por terem idades próximas, até pela passagem pela Alemanha, por escreverem ficção, obviamente; mas da escrita de Ampuero ressalta imediatamente um empenho maior para com a literatura do que em relação aos ajustes de contas com a História e com os norte-americanos, mas sem nunca perder um profundo sentido de justiça.
Cayetano Brulé, um detective muito peculiar («sempre que saía para visitar a amante, lembrava a Suzuki que não metesse a pata na poça diante dos clientes. Não fosse aquele japonês com a cabeça ainda às voltas pelos pisco sours emborcados e a directa da véspera no Kamikaze, confessar que em plena crise económica escasseavam as encomendas e que o seu chefe matava o tempo em assuntos de índole amorosa»), não é uma personagem apenas deste romance. Já tinha surgido no início da década de 1990, e dele Ampuero fala com verdadeiro fascínio. Chegou mesmo a dizer, em entrevistas, que Cayetano lhe sobreviverá, e mais, que lhe fará o epitáfio, algo como «este escritor andou sempre à procura de uma verdade que fosse capaz de convencê-lo». Com «Encontro no Azul Profundo» convence de certeza os leitores mais exigentes. Leitura apaixonante, na senda de tantas outras oferecidas pelos grandes narradores sul-americanos.