Tenho uma relação especial com as crónicas do António Souto, por isso sempre insisti em publicá-las no meu blogue, desde os tempos em que saíam num jornal da sua terra. Nunca como agora houve tantos cronistas, pelo menos é isso que noto ao folhear muitos dos jornais e muitas das revistas que por cá se publicam, ou até a andar pelos blogues. Mas apesar desta fartura, nem sempre encontro o que ler; muitas vezes começo uma e outra crónica e aquilo que me aparece é um muro invisível logo por alturas das primeiras linhas. Não sei de que cor é, nem que altura tem, nem de que material é feito, mas vou lá bater de cada vez que tento a leitura. Um muro invisível, um muro duro, tanto que com o tempo habituei-me a só bater lá com a cabeça uma vez, a não insistir, para evitar males maiores. Nunca dei por esse muro nas crónicas do Miguel Sousa Tavares, tal como não dei nas que me apareceram assinadas por nomes como Pedro Mexia, Luis Sepúlveda, José Eduardo Agualusa, José Luís Peixoto, Clara Ferreira Alves, António Lobo Antunes, Maria Filomena Mónica ou Pedro Correia, neste último caso nos blogues. É o mesmo que acontece com as crónicas do António Souto, daí o gosto que tenho, a cada mês, em que sejam publicadas. Se calhar o problema é meu e não de nenhuma crónica, de nenhum autor. Se calhar os muros não existem nas crónicas, nem muros visíveis, nem muros invisíveis. Pode ser mesmo um problema meu, ou antes, um problema da minha imaginação. Começo a ler e penso em muros, e depois, logo na segunda ou na terceira linha, bato com a cabeça. E desisto. Mas nas crónicas do António Souto, como nas dos outros nomes que referi, não penso nisso. E avanço. Concentrado. Interessado. Até ao fim.
NOTA: Texto escrito para o livro «Ex Abrupto – Crónicas de Tempos Vagos», de António Souto (que escreve regularmente no «Floresta do Sul»). O livro foi apresentado hoje ao fim da manhã, na Escola Secundária de Camões (antigo Liceu Camões), em Lisboa. O texto vem na contracapa do livro, que tem edição da DebatEvolution.
1 comentário:
E a minha gratidão pelo texto, pela presença e pela amizade.
Grande Abraço!
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