Estive no encontro «Palavra Ibérica 2011», em Tavira, com escritores do Algarve e da Andaluzia. Falei no painel de encerramento, sábado passado, à noite. Quando cheguei à Biblioteca Municipal, que tem o nome de um dos heterónimos de Fernando Pessoa (Álvaro de Campos), estavam os trabalhos quase a recomeçar. Parei por momentos à porta da sala, apanhei o telemóvel num dos bolsos das calças e preparei-me para tirar uma fotografia. Na altura em que carregava no botão, veio alguém cumprimentar-me. A foto é a que aqui publico, toda tremida.
Gostei muito de participar no encontro. Pelo facto de ser no Algarve, e com escritores tanto da minha terra como do sudoeste de Espanha, a certa altura da intervenção lembrei-me das viagens que fazia em criança até Ayamonte, e de como a partir de Vila Real de Santo António, ali perto de onde estava a decorrer o encontro, eu, pequenino, via o Guadiana tão grande, imenso como depois nunca mais o vi com o olhar de adulto. O rio que eu, pequenino, observava no cais antes de apanharmos o barco.
Lembrei-me também de uma promessa que me tinham feito, a de que mais do que a Ayamonte eu haveria de ir a outra cidade de Espanha: Huelva. Mas eu acabei por nunca ir a Huelva, de forma que nesses tempos já tão distantes ela se tornou para mim, pequenino, uma espécie de cidade mítica. Não, uma espécie não, tornou-se verdadeiramente uma cidade mítica. Lembrei-me também, enquanto falava disto na noite de sábado, que uma vez, em Vila Real de Santo António, contei esta história. Terá sido há uns três ou quatro anos, numa iniciativa relacionada com os meus livros. Já quase no fim, uma mulher pediu a palavra e disse-me que tinha nascido em Huelva mas que morava em Vila Real de Santo António porque se tinha casado com um português. Era a parte em que me faziam perguntas, mas ela não queria fazer nenhuma pergunta, queria apenas dizer-me que Huelva, essa cidade mítica da minha infância, não era de forma nenhuma uma cidade mítica. E que se eu quisesse que fosse lá, agora já adulto, para disso tirar a prova. Disse-lhe que sim, que haveria de ir. Mas ao mesmo tempo eu sabia que estava a dizer aquilo e que não era verdade. Eu nunca haveria de ir a Huelva. Acho até que nunca hei-de ir, apesar de conhecer a maior parte de Espanha. Prefiro ficar com a ideia de que Huelva, a cidade de que eu ouvia falar com cinco ou seis anos, nas viagens para Ayamonte, é mesmo, será sempre, uma cidade mítica.
1 comentário:
e eu gostei de ter ler, António.
Tavira é uma terra "mágica".
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