Foi num dos primeiros meses de 2006. Na revista a que então estava ligado publiquei um trabalho sobre o jornalista Carlos Pinto Coelho, recentemente desaparecido. Através desse trabalho, da minha colega Ana Leonor Martins, fica-se a conhecer a história de como veio para Portugal, onde tinha à sua espera um rival dos tempos do liceu, em Moçambique. Deixo a seguir o texto desse trabalho. A imagem é um pormenor de uma foto tirada no dia um de Abril de 2009, durante a apresentação de um livro meu, em Lisboa, que Carlos Pinto Coelho teve a amabilidade de fazer.
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Um conto fantástico
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É uma «estória» como existirão poucas. Carlos Pinto Coelho, jornalista, e Pedro Bettencourt da Camara, consultor, praticamente cresceram juntos, em Moçambique. A competição pelo lugar de melhor da turma terá contribuído para que não se tivessem tornado amigos. Mas isso não impediu um bonito gesto, digno do título de amizade. Depois seguiram percursos diferentes, raramente se vêem, mas continua a existir um elo, difícil de explicar, que os mantém próximos. «Tipo um conto fantástico.»
Texto: Ana Leonor Martins
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Um dia chuvoso e cinzento de 1963. Carlos Nuno tinha feito uma viagem de barco de 31 dias rumo a terra desconhecida – Lisboa. «Estava sozinho e muito triste. Os meus pais e os meus amigos tinham ficado em Moçambique», conta. Tinha cá família mas mal a conhecia e ninguém o foi esperar. «Era um menino de 19 anos, cheio de medo, e quando cheguei à Rocha do Conde de Óbidos só queria voltar para casa. Desci do ‘Príncipe Perfeito’ com a alma carregada. De repente, olho para a varanda do primeiro andar da estação de Alcântara e vejo o Pedro Rui. Foi a única pessoa à minha espera num mundo novo e hostil, a única alma que se lembrou de que eu existia e que me foi dar a mão, mesmo tendo sido sempre meu rival. Mas na hora da verdade estava lá, para me dar um abraço forte.»
Carlos Pinto Coelho, jornalista, e Pedro Bettencourt da Câmara, consultor, estudaram juntos no Colégio dos Maristas, em Lourenço Marques, até ao antigo quinto ano. Separam-se no liceu oficial mas quis o destino que viajassem os dois na mesma altura para Lisboa, para a então denominada metrópole; o objectivo de ambos, estudar Direito. Pedro Bettencourt da Camara tinha chegado algum tempo antes. «Sabia que o Carlos Nuno vinha e ir esperá-lo era algo natural. Apesar de a nossa relação não ser muito próxima, foi uma forma de lhe dar as boas-vindas a um meio que era estranho para os dois», partilha. Foi levá-lo ao Colégio Universitário Pio XII. «Devemos ter ido tomar café uma ou duas vezes, e voltámos a perder contacto», constata Carlos Pinto Coelho. «E nunca mais a vida nos aproximou.»
Recuando até aos tempos da primária, Pedro Bettencourt da Camara recorda que conheceu Carlos Pinto Coelho quanto entrou para os Maristas, «tinha uns seis ou sete anos». Continua... «A partir de determinada altura passámos a ser colegas de turma e havia uma certa rivalidade, porque ambos queríamos ter as melhores notas.» É que «às sextas-feiras, antes de irmos de fim-de-semana, eram distribuídas as cadernetas com as notas semanais e os resultados eram anunciados perante todos», explica Carlos Pinto Coelho. «O primeiro ou era eu, ou ele. Havia uma tensão enorme», acrescenta. Quando passaram para o liceu público, Carlos Pinto Coelho e Pedro Bettencourt da Camara deixaram de ser colegas, mas voltaram a encontrar-se em Lisboa, pois o destino de ambos era o mesmo, a Faculdade de Direito de Lisboa (FDL). O país que encontraram nada tinha a ver com a realidade que conheciam...
«O Portugal de então era um mundo feio. As pessoas andavam com medo na rua, as mulheres vestiam de escuro, os homens cuspiam para o chão, havia a polícia política e a ditadura… Lisboa era abominável. Os portugueses rosnavam uns aos outros», lembra Carlos Pinto Coelho. Já Pedro Bettencourt da Camara ficou impressionado sobretudo pelo facto de a sociedade portuguesa ser «muito estratificada e fechada», contrastando com a moçambicana, que era «extremamente aberta e com elevado grau de mobilidade». Existiam «barreiras tácitas que impediam a evolução das pessoas. E a faculdade era o espelho fiel disso», afirma. «As pessoas não falavam umas com as outras. Constituíam-se pequenos grupos que agiam de forma autónoma.»
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Negativa determinante
Apesar de estarem os dois na mesma faculdade, Pedro Bettencourt da Camara e Carlos Pinto Coelho perderam praticamente o contacto. Acabaram por seguir caminhos distintos, curiosamente fora da área do Direito. Um optou pelo mundo da Gestão, o outro seguiu a via do Jornalismo. Carlos Pinto Coelho nem chegou a concluir o curso. «Fui um belo estudante de Direito e acho até que hoje poderia ser um bom jurista.» Mas, depois de ter chegado ao último ano sem deixar nenhuma cadeira para trás, o professor Oliveira Ascensão chumbou-o a Direito das Sucessões. Viu a pauta, desceu as escadas da FDL e nunca mais as voltou a subir. Filho de juiz, nunca tinha pensado seguir outra carreira que não a magistratura, mas no dia seguinte tornou-se jornalista.
«Cheguei à residência, disse que não voltava mais à faculdade e o director, o padre Joaquim António de Aguiar, que achava que eu escrevia bem, telefonou para o ministro dos Negócios Estrangeiros, amigo íntimo do director do ‘Diário de Notícias’ (DN), e pediu-lhe que me recebesse. E fiquei», conta Carlos Pinto Coelho. Esteve lá dois anos, voltando depois a Moçambique para cumprir o serviço militar. Um grave acidente fez com que regressasse antes do previsto. Voltou para o DN, entrando também para a agência de notícias ANI. Depois veio o 25 de Abril e «foi o turbilhão que conhecemos», relembra. «O Partido Comunista tomou conta do jornal, José Saramago foi nomeado sub-director e pôs na rua, em 24 horas, 18 jornalistas. Fiquei desesperado porque já era pai de duas filhas e quando se era saneado não se conseguia emprego em mais jornal nenhum.» Mas só ficaria desempregado 12 horas, «o tempo de beber duas garrafas de ‘whisky’», confessa. «Como todas as noites, fui ao bar Snob. Por volta das seis e meia da manhã, entra um jornalista que me convida para ir para chefe de Política Internacional num jornal que ia abrir, o ‘Jornal Novo’.» E foi.
Um editorial muito violento que Carlos Pinto Coelho escreveu sobre a posição de Portugal na NATO serviu de rastilho para o seu ingresso no jornalismo televisivo. «Foi lido pela administração da RTP, que de seguida me convidou para dirigir a secção de Política Internacional do ‘Telejornal’. Não respondi logo, e nessa mesma noite alteraram o convite para director-adjunto de informação do ‘Telejornal’. Nunca tinha feito televisão na vida, mas aceitei.» Volvidos dois anos, passou a apresentar o «Telejornal», depois fundou o telejornal do Canal 2 até que, em 1982, esteve à beira de ir para a rua. «A presidência do Proença de Carvalho foi um mau período para a liberdade de expressão», lamenta. «Mas depois apareceu outra administração que me convidou para director de programas. E a partir dai a minha vida estabilizou. Comecei também a fazer rádio.» Com o fim do programa cultural da Dois, o «Acontece», que durante vários anos planificou e apresentou, deixou a televisão.
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Independência de acção e pensamento
Ao contrário de Carlos Pinto Coelho, Pedro Bettencourt da Camara acabou o curso de Direito, mas chegou à conclusão de que era a área da Gestão que mais lhe interessava. Começou por trabalhar como responsável das Relações de Trabalho, na Shell Portuguesa. «Estamos a falar em finais da década de 1970, quando as relações de trabalho eram um ponto nevrálgico para as empresas», contextualiza. «A população fabril era representada por uma constelação de sindicados e os processos de negociação eram complexos. Foi uma escola, não tanto na arte de negociar, mas sobretudo para aprender a perceber o ponto de vista dos outros e a não olhar para os problemas de forma linear.»
A ideia de que «não se poderia ter uma evolução significativa a não ser passando pelas áreas de negócio propriamente ditas» fez com que Pedro Bettencourt da Camara aceitasse o desafio de ir para Inglaterra conhecer melhor o grupo. Mas um processo de ‘downsizing’ precipitou o seu regresso passados poucos meses. «Quando voltei, propuseram-me que fosse para a área de Vendas, para conhecer o ‘core business’ da empresa. Estive lá cerca de quatro anos, até que o administrador achou que devia voltar para a área de Recursos Humanos.» Passou então a director de Pessoal. «Só que a minha chegada ao cargo coincidiu com a vinda de um holandês em fim de carreira para administrador-delegado. Não tinha margem de manobra, porque ele não queria que se fizessem muitas ondas. Ao fim de um ano nessa situação, saí.»
Pedro Bettencourt da Camara respondeu então a um anúncio do «Expresso», para director de Recursos Humanos da Digital, uma empresa de tecnologias de informação. Três semanas depois foi chamado para uma entrevista e ficou com o lugar. A empresa entrou em crise três anos depois… «Quase em simultâneo, surgiram várias propostas de trabalho muito interessantes, através de ‘head-hunters’. Acabei por ir para a Pepsi, que pretendia construir uma fábrica em Portugal, de raiz, que combinasse o que de melhor havia no seu sistema. Para isso, ia criar um ‘dream team’ e eu ficaria responsável pela componente de Recursos Humanos e de construção da estrutura organizacional.» A fábrica foi inaugurada em 1993, mas quatro anos depois resolveram iberizar a sua operação. «A componente estratégica passava para Espanha e eu ficava só com a componente operacional dos Recursos Humanos. Achei que para isso não servia», afirma.
Foi nessa altura que o consultor decidiu que estava na hora de pensar numa alternativa profissional. Escolheu potenciar a componente académica que sempre manteve ao longo da sua vida profissional e fazer uso da «experiência acumulada em relação ao mercado para passar de empregado por conta de outrem a profissional liberal». Constituiu a sua empresa e quase há 10 anos que trabalha como consultor de empresas e simultaneamente como professor universitário. «A independência de pensamento e de acção, que prezo muito, é total.»
Um conto fantástico
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É uma «estória» como existirão poucas. Carlos Pinto Coelho, jornalista, e Pedro Bettencourt da Camara, consultor, praticamente cresceram juntos, em Moçambique. A competição pelo lugar de melhor da turma terá contribuído para que não se tivessem tornado amigos. Mas isso não impediu um bonito gesto, digno do título de amizade. Depois seguiram percursos diferentes, raramente se vêem, mas continua a existir um elo, difícil de explicar, que os mantém próximos. «Tipo um conto fantástico.»
Texto: Ana Leonor Martins
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Um dia chuvoso e cinzento de 1963. Carlos Nuno tinha feito uma viagem de barco de 31 dias rumo a terra desconhecida – Lisboa. «Estava sozinho e muito triste. Os meus pais e os meus amigos tinham ficado em Moçambique», conta. Tinha cá família mas mal a conhecia e ninguém o foi esperar. «Era um menino de 19 anos, cheio de medo, e quando cheguei à Rocha do Conde de Óbidos só queria voltar para casa. Desci do ‘Príncipe Perfeito’ com a alma carregada. De repente, olho para a varanda do primeiro andar da estação de Alcântara e vejo o Pedro Rui. Foi a única pessoa à minha espera num mundo novo e hostil, a única alma que se lembrou de que eu existia e que me foi dar a mão, mesmo tendo sido sempre meu rival. Mas na hora da verdade estava lá, para me dar um abraço forte.»
Carlos Pinto Coelho, jornalista, e Pedro Bettencourt da Câmara, consultor, estudaram juntos no Colégio dos Maristas, em Lourenço Marques, até ao antigo quinto ano. Separam-se no liceu oficial mas quis o destino que viajassem os dois na mesma altura para Lisboa, para a então denominada metrópole; o objectivo de ambos, estudar Direito. Pedro Bettencourt da Camara tinha chegado algum tempo antes. «Sabia que o Carlos Nuno vinha e ir esperá-lo era algo natural. Apesar de a nossa relação não ser muito próxima, foi uma forma de lhe dar as boas-vindas a um meio que era estranho para os dois», partilha. Foi levá-lo ao Colégio Universitário Pio XII. «Devemos ter ido tomar café uma ou duas vezes, e voltámos a perder contacto», constata Carlos Pinto Coelho. «E nunca mais a vida nos aproximou.»
Recuando até aos tempos da primária, Pedro Bettencourt da Camara recorda que conheceu Carlos Pinto Coelho quanto entrou para os Maristas, «tinha uns seis ou sete anos». Continua... «A partir de determinada altura passámos a ser colegas de turma e havia uma certa rivalidade, porque ambos queríamos ter as melhores notas.» É que «às sextas-feiras, antes de irmos de fim-de-semana, eram distribuídas as cadernetas com as notas semanais e os resultados eram anunciados perante todos», explica Carlos Pinto Coelho. «O primeiro ou era eu, ou ele. Havia uma tensão enorme», acrescenta. Quando passaram para o liceu público, Carlos Pinto Coelho e Pedro Bettencourt da Camara deixaram de ser colegas, mas voltaram a encontrar-se em Lisboa, pois o destino de ambos era o mesmo, a Faculdade de Direito de Lisboa (FDL). O país que encontraram nada tinha a ver com a realidade que conheciam...
«O Portugal de então era um mundo feio. As pessoas andavam com medo na rua, as mulheres vestiam de escuro, os homens cuspiam para o chão, havia a polícia política e a ditadura… Lisboa era abominável. Os portugueses rosnavam uns aos outros», lembra Carlos Pinto Coelho. Já Pedro Bettencourt da Camara ficou impressionado sobretudo pelo facto de a sociedade portuguesa ser «muito estratificada e fechada», contrastando com a moçambicana, que era «extremamente aberta e com elevado grau de mobilidade». Existiam «barreiras tácitas que impediam a evolução das pessoas. E a faculdade era o espelho fiel disso», afirma. «As pessoas não falavam umas com as outras. Constituíam-se pequenos grupos que agiam de forma autónoma.»
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Negativa determinante
Apesar de estarem os dois na mesma faculdade, Pedro Bettencourt da Camara e Carlos Pinto Coelho perderam praticamente o contacto. Acabaram por seguir caminhos distintos, curiosamente fora da área do Direito. Um optou pelo mundo da Gestão, o outro seguiu a via do Jornalismo. Carlos Pinto Coelho nem chegou a concluir o curso. «Fui um belo estudante de Direito e acho até que hoje poderia ser um bom jurista.» Mas, depois de ter chegado ao último ano sem deixar nenhuma cadeira para trás, o professor Oliveira Ascensão chumbou-o a Direito das Sucessões. Viu a pauta, desceu as escadas da FDL e nunca mais as voltou a subir. Filho de juiz, nunca tinha pensado seguir outra carreira que não a magistratura, mas no dia seguinte tornou-se jornalista.
«Cheguei à residência, disse que não voltava mais à faculdade e o director, o padre Joaquim António de Aguiar, que achava que eu escrevia bem, telefonou para o ministro dos Negócios Estrangeiros, amigo íntimo do director do ‘Diário de Notícias’ (DN), e pediu-lhe que me recebesse. E fiquei», conta Carlos Pinto Coelho. Esteve lá dois anos, voltando depois a Moçambique para cumprir o serviço militar. Um grave acidente fez com que regressasse antes do previsto. Voltou para o DN, entrando também para a agência de notícias ANI. Depois veio o 25 de Abril e «foi o turbilhão que conhecemos», relembra. «O Partido Comunista tomou conta do jornal, José Saramago foi nomeado sub-director e pôs na rua, em 24 horas, 18 jornalistas. Fiquei desesperado porque já era pai de duas filhas e quando se era saneado não se conseguia emprego em mais jornal nenhum.» Mas só ficaria desempregado 12 horas, «o tempo de beber duas garrafas de ‘whisky’», confessa. «Como todas as noites, fui ao bar Snob. Por volta das seis e meia da manhã, entra um jornalista que me convida para ir para chefe de Política Internacional num jornal que ia abrir, o ‘Jornal Novo’.» E foi.
Um editorial muito violento que Carlos Pinto Coelho escreveu sobre a posição de Portugal na NATO serviu de rastilho para o seu ingresso no jornalismo televisivo. «Foi lido pela administração da RTP, que de seguida me convidou para dirigir a secção de Política Internacional do ‘Telejornal’. Não respondi logo, e nessa mesma noite alteraram o convite para director-adjunto de informação do ‘Telejornal’. Nunca tinha feito televisão na vida, mas aceitei.» Volvidos dois anos, passou a apresentar o «Telejornal», depois fundou o telejornal do Canal 2 até que, em 1982, esteve à beira de ir para a rua. «A presidência do Proença de Carvalho foi um mau período para a liberdade de expressão», lamenta. «Mas depois apareceu outra administração que me convidou para director de programas. E a partir dai a minha vida estabilizou. Comecei também a fazer rádio.» Com o fim do programa cultural da Dois, o «Acontece», que durante vários anos planificou e apresentou, deixou a televisão.
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Independência de acção e pensamento
Ao contrário de Carlos Pinto Coelho, Pedro Bettencourt da Camara acabou o curso de Direito, mas chegou à conclusão de que era a área da Gestão que mais lhe interessava. Começou por trabalhar como responsável das Relações de Trabalho, na Shell Portuguesa. «Estamos a falar em finais da década de 1970, quando as relações de trabalho eram um ponto nevrálgico para as empresas», contextualiza. «A população fabril era representada por uma constelação de sindicados e os processos de negociação eram complexos. Foi uma escola, não tanto na arte de negociar, mas sobretudo para aprender a perceber o ponto de vista dos outros e a não olhar para os problemas de forma linear.»
A ideia de que «não se poderia ter uma evolução significativa a não ser passando pelas áreas de negócio propriamente ditas» fez com que Pedro Bettencourt da Camara aceitasse o desafio de ir para Inglaterra conhecer melhor o grupo. Mas um processo de ‘downsizing’ precipitou o seu regresso passados poucos meses. «Quando voltei, propuseram-me que fosse para a área de Vendas, para conhecer o ‘core business’ da empresa. Estive lá cerca de quatro anos, até que o administrador achou que devia voltar para a área de Recursos Humanos.» Passou então a director de Pessoal. «Só que a minha chegada ao cargo coincidiu com a vinda de um holandês em fim de carreira para administrador-delegado. Não tinha margem de manobra, porque ele não queria que se fizessem muitas ondas. Ao fim de um ano nessa situação, saí.»
Pedro Bettencourt da Camara respondeu então a um anúncio do «Expresso», para director de Recursos Humanos da Digital, uma empresa de tecnologias de informação. Três semanas depois foi chamado para uma entrevista e ficou com o lugar. A empresa entrou em crise três anos depois… «Quase em simultâneo, surgiram várias propostas de trabalho muito interessantes, através de ‘head-hunters’. Acabei por ir para a Pepsi, que pretendia construir uma fábrica em Portugal, de raiz, que combinasse o que de melhor havia no seu sistema. Para isso, ia criar um ‘dream team’ e eu ficaria responsável pela componente de Recursos Humanos e de construção da estrutura organizacional.» A fábrica foi inaugurada em 1993, mas quatro anos depois resolveram iberizar a sua operação. «A componente estratégica passava para Espanha e eu ficava só com a componente operacional dos Recursos Humanos. Achei que para isso não servia», afirma.
Foi nessa altura que o consultor decidiu que estava na hora de pensar numa alternativa profissional. Escolheu potenciar a componente académica que sempre manteve ao longo da sua vida profissional e fazer uso da «experiência acumulada em relação ao mercado para passar de empregado por conta de outrem a profissional liberal». Constituiu a sua empresa e quase há 10 anos que trabalha como consultor de empresas e simultaneamente como professor universitário. «A independência de pensamento e de acção, que prezo muito, é total.»
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Nestes dois percursos distintos, poucas foram as vezes que Carlos Pinto Coelho e Pedro Bettencourt da Camara se encontraram. «Cruzámo-nos algumas vezes na RTP, porque o ‘Dinheiro Vivo’, programa sobre Economia e Gestão no qual fiz algumas intervenções, era gravado a seguir ao ‘Acontece’», diz o consultor. «E um dia recebi um convite em casa para uma exposição de fotografia, com uma nota manuscrita pelo Carlos que dizia: «Pedro, aparece que quero dar-te um abraço.» Tivemos um percurso comum numa fase muito marcante na vida. Por isso, apesar dos caminhos diferentes, ficou uma estima e um respeito mútuo.» Sentimento idêntico nutre Carlos Pinto Coelho, que afirma que, hoje, se considera um «sólido amigo do Pedro». «A nossa história é tipo um conto fantástico.»
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Carlos Pinto Coelho/ Pedro Bettencourt da Camara
Carlos Nuno Pinto Coelho frequentou a Faculdade de Direito de Lisboa (FDL) até ao quinto ano, enveredando depois pelo jornalismo. Passou pelo Diário de Notícias, pela ANI, pela rádio Deutsche Welle, pela revista «Mais» e, em 1977, entrou para a RTP, como director-adjunto de informação. Saiu em 2003, com o fim do programa «Acontece». Antes foi chefe de redacção do Canal 2, director de programas e director de Cooperação e Relações Internacionais, autor e apresentador de vários programas. Escreve regularmente para a imprensa, é realizador e apresentador de programas na rádio, dá aulas de Jornalismo e faz fotografia.
Pedro Rui Bettencourt da Camara é licenciado em Direito, também pela FDL, tendo posteriormente frequentado cursos de pós-graduação em Gestão, tanto em Portugal como no estrangeiro. Desenvolveu a sua carreira profissional nas áreas de Recursos Humanos e Desenvolvimento Organizacional, tendo fundado a sua própria empresa de consultoria em 1998 – a PCA Consultores. Paralelamente, é professor convidado, na área de Gestão, na Universidade Católica, no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) e na Universidade Lusíada. Tem vários livros publicados, de entre os quais se destaca o ‘best-seller’ «Humanator» (de que é co-autor).
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Carlos Pinto Coelho/ Pedro Bettencourt da Camara
Carlos Nuno Pinto Coelho frequentou a Faculdade de Direito de Lisboa (FDL) até ao quinto ano, enveredando depois pelo jornalismo. Passou pelo Diário de Notícias, pela ANI, pela rádio Deutsche Welle, pela revista «Mais» e, em 1977, entrou para a RTP, como director-adjunto de informação. Saiu em 2003, com o fim do programa «Acontece». Antes foi chefe de redacção do Canal 2, director de programas e director de Cooperação e Relações Internacionais, autor e apresentador de vários programas. Escreve regularmente para a imprensa, é realizador e apresentador de programas na rádio, dá aulas de Jornalismo e faz fotografia.
Pedro Rui Bettencourt da Camara é licenciado em Direito, também pela FDL, tendo posteriormente frequentado cursos de pós-graduação em Gestão, tanto em Portugal como no estrangeiro. Desenvolveu a sua carreira profissional nas áreas de Recursos Humanos e Desenvolvimento Organizacional, tendo fundado a sua própria empresa de consultoria em 1998 – a PCA Consultores. Paralelamente, é professor convidado, na área de Gestão, na Universidade Católica, no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) e na Universidade Lusíada. Tem vários livros publicados, de entre os quais se destaca o ‘best-seller’ «Humanator» (de que é co-autor).
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1 comentário:
ANTÓNIO MV: grande e sentida homenagem!Narrativa longa ,que faz jus à personalidade do grande HOMEM-JORNALISTA!
Beijo de
LUSIBERO
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