sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A primeira frase (2)

«Severino Castanho, quase todos os dias, vai visitar Catarina.»
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Primeira frase da novela «Os Abençoados Fiéis do Senhor S. Romão». Depois o livro continua assim:
«Mas pára antes de lhe tocar e fica a olhá-la demoradamente, como ela também olha para ele. Os dois sem se mexerem. É um amor à distância possível, porque as velhas mais não permitem. As velhas, aquelas velhas que vestem um negro por destoar, como quem rouba penas aos melros, acentuam assim o luto. Há muito que se foram os homens da casa, ou porque Deus os chamou, ou então porque a bruxa da Corte da Pomba lhes traçou os destinos. Neste ponto divergem as opiniões, pois o caso ficou por explicar. E isso porque nunca ninguém percebeu como é que o pai e o irmão de Catarina, que sempre tiveram fama de bons caçadores, foram logo acertar na cabeça um do outro. Não faltou por aí quem dissesse que Deus quis defender os animais e guiou os tiros para tão trágicos destinos. Mas também houve opiniões de que quem se assanhou foi a bruxa da Corte da Pomba. Com uns caçadores de disparar tão barulhento, ela ter-se-á logo lembrado de fazer o que os outros disseram que foi Deus que fez, e dessa maneira descansou a tropa que tem ao serviço. A tropa de morcegos que de dia precisa de dormir para recuperar das canseiras nocturnas que apanha a trabalhar para a patroa.»

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