segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Os Dias do Blog – 6

Sexta crónica sobre blogs da série que fiz mensalmente entre finais de 2003 e meados de 2007. Esta é a crónica de Maio de 2004. Início aqui.
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Essa Maria Filomena Mónica
(Maio de 2004)
Eça de Queirós e Santana Lopes metidos de repente nos blogs. Não porque se lembrassem os contribuintes destes novos espaços de ir buscar as intemporais opiniões do escritor sobre a nossa política e, sobretudo, os nossos políticos, fazendo do presidente da câmara de Lisboa o manequim para alombar com os capotes que Eça descreveu, mas porque o presidente arranjou maneira de se misturar com o autor de «Os Maias». O assunto dos blogs, então, o hotel lisboeta mandado comprar por Santana Lopes às três pancadas para aí instalar uma Casa Eça de Queirós.
Vejamos o «O Blog do Alex», a 24 de Março, data em que no jornal «Público» Maria Filomena Mónica disse de sua justiça sobre a decisão de Santana Lopes: «Santana Lopes comprou uma casa qualquer para instalar a Casa Eça de Queirós! Ora: 1º - A casa nada tem a ver com ele [ela, Eça, já se vê, não Santana, se bem que a casa, ou melhor, o hotel, também não tenha muito a ver com Santana]; 2º - Ele sempre viveu em casas e quartos alugados! [ainda e sempre ele, Eça, claro]; 3º - Os papéis pessoais de Eça estão no fundo do mar, quando o navio Santo André ao regressar da Exposição Universal de Paris afundou em 24 de Janeiro de 1901; 4º - A sua biblioteca foi roubada em 1911 quando a viúva se encontrava em Vigo! [seria desnecessário referir sua, de Eça, a ver pelo ano; além do mais, não se sabe se Santana tem biblioteca, e em caso de não ter se é porque alguém lha roubou]; 5º - O seu espólio está na Biblioteca Nacional, muito bem tratado e não vai sair de lá! Para quê esta casa? [espólio de Eça, não é de certeza o de Santana].» O autor do blog refere que os seus cinco tópicos foram adaptados do artigo de Maria Filomena Mónica; já o que está entre parênteses rectos são acrescentos meus.
Ainda no mesmo dia, o blog «O Vilacondense»... «Infelizmente não está on-line o superior artigo de Maria Filomena Mónica. Chama-se ‘Uma casa vazia para Eça de Queirós’ e glosa com a intenção de Pedro Santana Lopes em criar uma casa para ‘reconstituições da memória queiroziana’. Ora, segundo esta autora e estudiosa da obra daquele nome maior da literatura lusa, não há espólio de Eça de Queirós. Ou seja, não há conteúdo para ‘encher’ a moradia adquirida por PSL. E porquê? Porque os móveis e o arquivo que a viúva enviou de Londres estão no fundo do mar, pois o barco que os transportava afundou-se. Depois, porque a biblioteca do escritor alegadamente nascido na Póvoa de Varzim foi roubada pelo genro de uma das criadas da casa. Restam, sim, algumas edições de obras de autores estrangeiros, sem grande relevo. Conclui Maria Filomena Mónica que ‘a ideia de que a futura casa pudesse vir a albergar o espólio do escritor é um absurdo’, pelo que ‘a Câmara de Lisboa gastou dinheiro (e tem de nos dizer quanto) com a aquisição de um prédio onde apenas poderá exibir’ a já escolhida directora, Ana Nascimento Piedade’. Depois dos sempre recordados concertos para violino de Chopin, parece que o nosso PSL ainda não se apercebeu de que o ditado ‘quem te manda a ti, sapateiro, tocar rabecão?’ lhe assenta que nem uma luva...» Dos comentários, um destaque [João Ricardo]: «Essa do ‘alegadamente’ nascido na Póvoa de Varzim é um achado. Não sabia que a rivalidade entre Vila do Conde e a Póvoa de Varzim era assim tão grande...»
Ainda 24 de Março, o blog «Placard», referindo o artigo de Maria Filomena Mónica, «acrescenta»: «Para Santana Lopes é perfeitamente indiferente que o hotel Bragança seja na Rua do Alecrim ou na Rua Vítor Cordon, tanto mais que ele não era o presidente da câmara e, portanto, não é responsável. Mesmo que se não deva divulgar a idade de ninguém, ele nem sequer tinha nascido. Depois as coisas ocorrem-lhe sempre com algum atraso, tanto assim que só deu por ter sido o responsável pela cultura do país passada uma dúzia de anos e não se sabe depois de quantas passagens pelas docas. É sempre uma concessão da sua parte dedicar um espaço à instalação de uma Casa Eça de Queirós, uma vez que não o conheceu e não espera tê-lo como cliente do novo casino em cuja construção está empenhado, a bem da redução dos aviltantes níveis de pobreza no concelho e da erradicação da toxicodependência no Intendente.» Mais... «A Dra. Ana Piedade foi seleccionada seguramente em resultado de concurso público e no mais escrupuloso respeito pelas transparentes normas que a autarquia tem em vigor, embora com carácter reservado por questões de segurança. Depois, como a própria defende, o que é relevante é o facto de o edifício se situar numa zona a transbordar de referências queirozianas. Sendo assim, poderia o mesmo ter sido adquirido, com igual e inatacável lógica, no Porto, na Póvoa de Varzim ou mesmo em Havana. Nos Campos Elíseos não, que o preço por metro quadrado está pela hora da morte. E como é o próprio presidente da câmara a decidir ‘estas coisas’, muita sorte houve em que o mesmo, pura e simplesmente, não tivesse decidido que Eça nem sequer existiu porque dele se não fala no Kremlin.»
Até parece que a polémica foi desencadeada pelo artigo de Maria Filomena Mónica, mas não. Mudando de dia, para três de Abril, vejamos o blog «Prazer Inculto»: «O suplemento humorístico do ‘Público’, ‘Inimigo P.’ está cada vez melhor. As notícias inventadas constituem, frequentemente, tiros mais certeiros do que as notícias que o ‘corpo principal’ se atreve a tocar. Entre várias, esta semana, destaco a que relata a vontade do presidente da C. de Lisboa em resolver o diferendo que obrigou Eça de Queirós a ir viver para uma ilha das Canárias por causa de um secretário de estado do PSD.» Eça e Santana, apenas. Só que depois... «O melhor parágrafo é o que refere a forma como Maria Filomena Mónica teria recebido os pedidos de informação de S. Lopes a propósito da actual vida do escritor de ‘Os Maias’: ‘O quê?! Mas o senhor presidente está a falar de quê?’.»
Nem assim. Talvez da polémica nunca se consiga separar o nome de Maria Filomena Mónica. Mérito dela. E de Eça, que lhe deu matéria para escrever páginas fascinantes.
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Blogs consultados
http://oblogdoalex.blogspot.com/, com textos assinados por Alex;
http://ovilacondense.blogspot.com/, com textos assinados por «Dupond» e «Dupont»;
http://placard.weblog.com.pt/, com textos assinados por LFV;
http://prazer_inculto.blogspot.com/, mantido por Possidónio Cachapa.
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