Foi uma parte bem pequenina de um segundo, uma parte ínfima em que consegui fugir dos pensamentos dos silos de cereais transformados em naves espaciais na planície alentejana, e então percebi o perigo do cavalo. E percebi a impossibilidade de travar a tempo, como se isso estivesse escrito nalgum livro de uma repartição esquecida dos arquivos do Estado capaz de escapar à voracidade de todas as reformas públicas, das apregoadas de boca por um qualquer político standard ou até de alguma que fosse mesmo a sério. Como se estivesse escrito que eu não conseguiria evitar o choque, e sabe-se lá com que consequências para mim. Um bocadinho de segundo, e o cavalo à frente do carro, depois de saído nem eu sabia de que escuridão. Um cavalo preto como essa mesma escuridão que começava logo a seguir às bermas.
Excerto do romance «O que Entra nos Livros»; foto de Annick (http://picasaweb.google.com/annick.b42/).
1 comentário:
Assim de repente parece um Rottweiller, pela pelagem.
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