Blog de António Manuel Venda (de 21 de Maio de 2006 a 1 de Junho de 2013)
sexta-feira, 21 de março de 2008
A aluna, a professora, o telemóvel
Não escrevi nada sobre o caso da aluna que numa escola do Porto agrediu uma professora por causa do telemóvel. Mas li as análises mais lúcidas aqui, aqui e aqui.
7 comentários:
Anónimo
disse...
António:
Se quer a minha opinião, sobre o assunto, aqui vai. Vou tentar ser o mais sintético possível:
1 - Este não é caso único. E nem sequer o único filmado. Aqui há alguns anos - um canal de televisão - passou um filme, tipo "Candy Camera", onde se poderia ver que passados cerca de 15 minutos, ainda andava toda a gente de pé e até havia quem fizesse saltitar uma bola em plena sala;
2 - Este caso é falado porque chegou à comunicação social, embora por linhas tortas;
3 - A escola chegou a este ponto, porque os vários responsáveis do sector, há mais de 20 anos se preocupam, quase exclusivamente, em trabalhar para as estatísticas, deixando de lado a qualidade do ensino "assimilado". Porque, mesmo que os professores tentem ensinar com qualidade, quem pode aprender naquele ambiente?;
4 - As orientações vão no sentido de não marginalizar alunos, a qualquer custo. Mas ninguém se importa com o facto de 2 ou 3 "turistas" como esta, possam, durante todo o ano, criar as condições para que os outros 20 ou 30 não consigam assimilar a matéria. E, se o professor actua no sentido de os expulsar da sala de aula, é quase certo que começa a ter problemas com o C. Directivo. Porque esta via, a ser seguida mesmo que com razão, poderia por em causa as sacrossantas estatísticas do abandono escolar. Resultado: nivela-se por baixo;
5 - Há aqui culpas de outros responsáveis anteriores como, por exemplo, Ana Benavente, de que agora se voltou a falar. Ela também se portou como apologista da teoria do “bom selvagem”. Mas a grande machadada na "autoridade" do professor, enquanto responsável pela condução da aula, está a ser dada por esta equipa ministerial, que ataca os professores como sendo globalmente maus profissionais. Lançou o rastilho e agora, só pode piorar;
6 - Quem pode ensinar em ambientes destes? Onde o professor está sujeito a ser agredido por alunos e familiares quando, justamente, aplica uma má nota.
7 – Dito isto, eu julgo que a professora não deveria ter procedido daquela maneira. Deveria ter chamado alguém que se encarregasse de colocar "aquela boa selvagem" fora da aula. Mas que condicionamentos a terão levado a isso? Quem pode atirar a primeira pedra? Devia ser averiguado o que levou a professora àquela atitude, que configura uma comportamento desesperado. Qual o passado daquela turma? Foi um caso isolado? E aquela Srª da DREN, tristemente célebre pelo caso Charrua, já terá investigado? Ou isto é menos importante?
Você tem razão no que diz; e muita gente vai no mesmo sentido. Ou seja, o problema parece-me óbvio e a sua solução a mesma coisa. O que me espanta é que em lugares de responsabilidade (governativa ou descendo pelas estruturas da educação abaixo) não haja quem veja, ou queira ver, o óbvio. E o que é verdadeiramente preocupante é que esta lógica se estende por outros sectores, como o da saúde ou o da agonizante justiça.
Não há dúvida de que os tempos mudaram imenso desde os meus tempos de aluno no Liceu Camões (1975/1980).
Anos quentes, a seguir ao 25 de Abril, com COPCON a cercar o liceu, com alunos a atravessar o ginásio pelo ar, pendurados em cordas, durante uma exibição de ballet, com os bailarinos em pânico; cenas de pancadaria entre juventudes partidárias, com direito a cocktails Molotov e mocas de madeira, provenientes de carteiras que eram atiradas do primeiro andar para o pátio. De tudo um pouco.
Mas havia ainda uma certa reverência pelos professores, pelo meio da insubordinação e da "loucura do dia a dia".
Recordo um dia em que a professora de Matemática (bastante permissiva) nos pediu encarecidamente para nos portarmos bem. Nessa aula, ela seria avaliada por alguém. A turma portou-se impecavelmente.
Hoje, os miúdos têm um espírito individualista e os valores da solidariedade para com os mais velhos são uma coisa a atirar para o utópico. Daí ao desrespeito pelo professor vai um pulinho.
A comunicação falhou. Há uma barreira comunicativa enorme. A sociedade de consumo condicionou tremendamente as mentes dos adolescentes. Ao ponto de um telemóvel ser um objecto imprescindível para uma jovem verdadeiramente desesperada por se ver sem o objecto. Não acredito que ela pensasse que ia ficar sem o telemóvel.
Uma professora da 3ª classe confiscou-me o relógio simplesmente por eu estar a olhar para as horas repetidamente, com medo de perder a camioneta para casa. Nunca pensei que me fosse "fanar" o relógio.
Também não é líquido que a jovem estivesse num "braço de ferro" com a professora, ofendida na sua dignidade. Parece-me que o seu desespero era genuíno. Tão genuíno como o das revoltadas miúdas que choraram baba e ranho com a anulação do concerto dos Tokyo Hotel.
Estes miúdos e miúdas que chegaram até isto já não podem ser moldados de outra forma. Repare-se que o rapaz que filmou a cena está deliciado. Todos estão. A comunicação faz-se ao nível da imagem. Era importante filmar e divulgar na Net. Aposto que muitos dos elementos da turma nem sequer pensaram no assunto em termos de impacto social. Para eles, seria apenas uma "cena curtida", por invulgar.
E foi isto no Carolina Michaelis. E não foi com os miúdos que mataram a Gisberta...
António Só li o primeiro link. Meter aqui o Novas Oprtunidades não tem nada a ver. Falar de humilhação, quando este governo pôs fim à balburdia das listas de prof's e coloca-os por períodos de 3 anos seguidos, é grotesco; e o sr Charrua, docente só distinto pelas suas bojardas é bem uma causa do estado de tudo isto, ao descer ao nível dos «jovens» (bons selvagens? Rousseau na versão Mónica? O Viegas sabe mesmo do que fala...). Nem tencionava, mas fez-me escrever sobre isto, nos Amgiso do Povo. Abraço
fui ler n' O Amigo do Povo. Depois do que li do Francisco já li o Vasco Pulido Valente no Público, que talvez seja a melhor síntese de tudo isto; não me espanta, vindo de quem vem - apesar do que se diz dele (sobretudo por inveja, parece-me), é o grande analista que temos do que se vai passando em Portugal. Deste caso eu não posso meter culpas no governo; era só o que faltava! Mas claro que há quem ponha. É melhor guardar as culpas para meter em relação a tantas outras coisas onde tem feito asneiras e por vezes mais até do que asneiras, como no caso daquele tipo execrável da saúde. A degradação da educação, como escreveu o Vasco Pulido Valente, vem de há muito (ele fala de Roberto Carneiro, Marçal Grilo, Veiga Simão - a quem chama «homem nefasto»).
Olá Também li o VPV. Deixando de parte o caos pessoal dele, este artigo em concreto peca apenas por reduzir tudo a opções de políticos, como se os próprios professores fossem irrelevantes. E como se todos os ministros da educação não fossem docentes unIversitários - tal como o nosso actual PR, que foi quem mais tempo foi PM desde o 25 de Abril... Abraço
olá de novo escrevi caos pessoal, qeria escrever caso... de qq modo, ele escrevia bem no tempo do Indy,a rtigos d epágina itneira, agora é entretenimento,se quer a minha opinião.E o blog que teve, com a Constança dele, era abjecto. Entretanto, o descaro continua: uns miúdos agora falam dos seguranças das escolas (policias reformados) como «informadores» e «pides» (a escola Mendes Bota prospera, a autoridade continua a decair). E o PCP já entregou requerimentos na AR, claro. par aquando uma pérola do menezes, sobre isto?
7 comentários:
António:
Se quer a minha opinião, sobre o assunto, aqui vai. Vou tentar ser o mais sintético possível:
1 - Este não é caso único. E nem sequer o único filmado. Aqui há alguns anos - um canal de televisão - passou um filme, tipo "Candy Camera", onde se poderia ver que passados cerca de 15 minutos, ainda andava toda a gente de pé e até havia quem fizesse saltitar uma bola em plena sala;
2 - Este caso é falado porque chegou à comunicação social, embora por linhas tortas;
3 - A escola chegou a este ponto, porque os vários responsáveis do sector, há mais de 20 anos se preocupam, quase exclusivamente, em trabalhar para as estatísticas, deixando de lado a qualidade do ensino "assimilado". Porque, mesmo que os professores tentem ensinar com qualidade, quem pode aprender naquele ambiente?;
4 - As orientações vão no sentido de não marginalizar alunos, a qualquer custo. Mas ninguém se importa com o facto de 2 ou 3 "turistas" como esta, possam, durante todo o ano, criar as condições para que os outros 20 ou 30 não consigam assimilar a matéria. E, se o professor actua no sentido de os expulsar da sala de aula, é quase certo que começa a ter problemas com o C. Directivo. Porque esta via, a ser seguida mesmo que com razão, poderia por em causa as sacrossantas estatísticas do abandono escolar. Resultado: nivela-se por baixo;
5 - Há aqui culpas de outros responsáveis anteriores como, por exemplo, Ana Benavente, de que agora se voltou a falar. Ela também se portou como apologista da teoria do “bom selvagem”. Mas a grande machadada na "autoridade" do professor, enquanto responsável pela condução da aula, está a ser dada por esta equipa ministerial, que ataca os professores como sendo globalmente maus profissionais. Lançou o rastilho e agora, só pode piorar;
6 - Quem pode ensinar em ambientes destes? Onde o professor está sujeito a ser agredido por alunos e familiares quando, justamente, aplica uma má nota.
7 – Dito isto, eu julgo que a professora não deveria ter procedido daquela maneira. Deveria ter chamado alguém que se encarregasse de colocar "aquela boa selvagem" fora da aula. Mas que condicionamentos a terão levado a isso? Quem pode atirar a primeira pedra? Devia ser averiguado o que levou a professora àquela atitude, que configura uma comportamento desesperado. Qual o passado daquela turma? Foi um caso isolado?
E aquela Srª da DREN, tristemente célebre pelo caso Charrua, já terá investigado?
Ou isto é menos importante?
Um abraço.
Manuel
Você tem razão no que diz; e muita gente vai no mesmo sentido. Ou seja, o problema parece-me óbvio e a sua solução a mesma coisa. O que me espanta é que em lugares de responsabilidade (governativa ou descendo pelas estruturas da educação abaixo) não haja quem veja, ou queira ver, o óbvio. E o que é verdadeiramente preocupante é que esta lógica se estende por outros sectores, como o da saúde ou o da agonizante justiça.
António
Não há dúvida de que os tempos mudaram imenso desde os meus tempos de aluno no Liceu Camões (1975/1980).
Anos quentes, a seguir ao 25 de Abril, com COPCON a cercar o liceu, com alunos a atravessar o ginásio pelo ar, pendurados em cordas, durante uma exibição de ballet, com os bailarinos em pânico; cenas de pancadaria entre juventudes partidárias, com direito a cocktails Molotov e mocas de madeira, provenientes de carteiras que eram atiradas do primeiro andar para o pátio.
De tudo um pouco.
Mas havia ainda uma certa reverência pelos professores, pelo meio da insubordinação e da "loucura do dia a dia".
Recordo um dia em que a professora de Matemática (bastante permissiva) nos pediu encarecidamente para nos portarmos bem. Nessa aula, ela seria avaliada por alguém. A turma portou-se impecavelmente.
Hoje, os miúdos têm um espírito individualista e os valores da solidariedade para com os mais velhos são uma coisa a atirar para o utópico. Daí ao desrespeito pelo professor vai um pulinho.
A comunicação falhou. Há uma barreira comunicativa enorme. A sociedade de consumo condicionou tremendamente as mentes dos adolescentes. Ao ponto de um telemóvel ser um objecto imprescindível para uma jovem verdadeiramente desesperada por se ver sem o objecto. Não acredito que ela pensasse que ia ficar sem o telemóvel.
Uma professora da 3ª classe confiscou-me o relógio simplesmente por eu estar a olhar para as horas repetidamente, com medo de perder a camioneta para casa. Nunca pensei que me fosse "fanar" o relógio.
Também não é líquido que a jovem estivesse num "braço de ferro" com a professora, ofendida na sua dignidade. Parece-me que o seu desespero era genuíno. Tão genuíno como o das revoltadas miúdas que choraram baba e ranho com a anulação do concerto dos Tokyo Hotel.
Estes miúdos e miúdas que chegaram até isto já não podem ser moldados de outra forma. Repare-se que o rapaz que filmou a cena está deliciado. Todos estão. A comunicação faz-se ao nível da imagem. Era importante filmar e divulgar na Net. Aposto que muitos dos elementos da turma nem sequer pensaram no assunto em termos de impacto social. Para eles, seria apenas uma "cena curtida", por invulgar.
E foi isto no Carolina Michaelis. E não foi com os miúdos que mataram a Gisberta...
António
Só li o primeiro link. Meter aqui o Novas Oprtunidades não tem nada a ver. Falar de humilhação, quando este governo pôs fim à balburdia das listas de prof's e coloca-os por períodos de 3 anos seguidos, é grotesco; e o sr Charrua, docente só distinto pelas suas bojardas é bem uma causa do estado de tudo isto, ao descer ao nível dos «jovens» (bons selvagens? Rousseau na versão Mónica? O Viegas sabe mesmo do que fala...). Nem tencionava, mas fez-me escrever sobre isto, nos Amgiso do Povo.
Abraço
Carlos,
fui ler n' O Amigo do Povo. Depois do que li do Francisco já li o Vasco Pulido Valente no Público, que talvez seja a melhor síntese de tudo isto; não me espanta, vindo de quem vem - apesar do que se diz dele (sobretudo por inveja, parece-me), é o grande analista que temos do que se vai passando em Portugal.
Deste caso eu não posso meter culpas no governo; era só o que faltava! Mas claro que há quem ponha. É melhor guardar as culpas para meter em relação a tantas outras coisas onde tem feito asneiras e por vezes mais até do que asneiras, como no caso daquele tipo execrável da saúde. A degradação da educação, como escreveu o Vasco Pulido Valente, vem de há muito (ele fala de Roberto Carneiro, Marçal Grilo, Veiga Simão - a quem chama «homem nefasto»).
António
Olá
Também li o VPV. Deixando de parte o caos pessoal dele, este artigo em concreto peca apenas por reduzir tudo a opções de políticos, como se os próprios professores fossem irrelevantes. E como se todos os ministros da educação não fossem docentes unIversitários - tal como o nosso actual PR, que foi quem mais tempo foi PM desde o 25 de Abril...
Abraço
olá de novo
escrevi caos pessoal, qeria escrever caso... de qq modo, ele escrevia bem no tempo do Indy,a rtigos d epágina itneira, agora é entretenimento,se quer a minha opinião.E o blog que teve, com a Constança dele, era abjecto.
Entretanto, o descaro continua: uns miúdos agora falam dos seguranças das escolas (policias reformados) como «informadores» e «pides» (a escola Mendes Bota prospera, a autoridade continua a decair). E o PCP já entregou requerimentos na AR, claro. par aquando uma pérola do menezes, sobre isto?
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