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a) É um treinador que, no início da época, entrega aos jogadores um DVD com toda a informação sobre o respectivo papel individual e colectivo, a metodologia de treino que têm de seguir, os papéis que têm que desempenhar na equipa, o que a equipa e o treinador esperam do jogador, bem como uma análise global dos objectivos específicos que o jogador tem que atingir para justificar ser uma opção para o treinador. Informa os jogadores do contexto específico em que vão realizar o seu trabalho.
b) Informa-se detalhadamente sobre cada jogador das equipas adversárias, as suas características físicas e técnicas, estatísticas de produtividade, experiência, estrutura emocional. Transforma dados em informação e informação em inteligência futebolística (IF).
c) Define com rigor os papéis de cada elemento da equipa técnica e do departamento de futebol; recebem uma job description detalhada, contendo e definindo todas as responsabilidades individuais e todas as interacções que cada um deve estabelecer no quadro da equipa. Define os papéis de cada um.
d) Optimiza todos os factores do treino e do jogo. Não deixa qualquer probabilidade ao acaso. As suas decisões sobre o treino e sobre o jogo reflectem imensas horas de estudo prévio. Prepara alternativas para todos os imprevistos que possam ocorrer, mesmo aqueles que nunca podem acontecer (mas que acontecem). Preparação estratégica de acordo com a metodologia prospectiva (teoria dos cenários).
e) Apesar dos aspectos científicos, vê o futebol e o jogo em particular como um choque de emoções. Revela uma inteligência emocional acima da média e usa-a para despertar emoções nos seus jogadores e nas equipas adversárias. Não cedeu à visão matemática do jogo. São seres emocionais que são geridos de forma emocional. Dramatiza as situações como ninguém.
f) Durante o jogo, vê o essencial, ou seja, se a estratégia que preparou está a ter o efeito previsível sobre o adversário. Controla o efeito estratégico.
g) Os pequenos detalhes durante o jogo são todos preparados de antemão. Nada acontece por acaso. Ao contrário do que se diz, Mourinho não é teimoso, pois se verifica que as coisas não estão a funcionar como planeado avança com o «plano B» ou com o «plano C». Demonstra coragem no momento de escolher opções.
h) Dialoga permanentemente com os jogadores, mais a nível individual do que colectivo. Assim que detecta quais os pontos fortes do jogador, explora-os na sua plenitude e não se preocupa com os eventuais pontos fracos. Usa o potencial de cada um.
i) Não admite faltas de responsabilização por parte dos jogadores. Se um jogador se desrespeita a si próprio, não cumprindo os objectivos a que se propôs, e dessa forma prejudica a equipa, chama-o à atenção em frente dos colegas. Trabalha em equipa e como equipa.
j) Não tem apenas um curso de treinador e uma licenciatura. Durante cerca de 10 anos adquiriu competências em todos os domínios, ou seja, aprendeu a saber-fazer. E fê-lo, com humildade, ao pé dos mestres.
l) Preparou devidamente toda a sua ascensão ao topo, e quando lá chegou já conhecia as estratégias de comunicação que deveria desenvolver. Mas fê-lo com um cunho pessoal, não copiou ninguém. Revelou identidade.
m) E porque vivemos no mundo do simbólico, soube usar isso em seu favor como ninguém. Criou uma imagem distintiva e trabalha para a manter. Demonstra o que acha que deve demonstrar e não deixa de ser quem é. Apesar da exposição, preserva a sua intimidade e a sua vida familiar.
n) E enquanto muitos procuram imitá-lo, ele já está a pensar como pode optimizar o seu próprio rendimento e o rendimento dos que o rodeiam.
o) Usa a estrutura organizativa como factor de enquadramento e de responsabilização humana. O modelo organizativo não existe por si mesmo. Tem uma função específica de superação das fragilidades humanas.
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Luís Bento refere ainda... Os segredos de José Mourinho não têm a ver com conhecer estas dimensões da gestão de pessoas e recursos, muito embora sejam raros os treinadores de futebol que as sabem entender. Os segredos de José Mourinho têm a ver com optimizar cada dimensão da gestão de uma forma integrada e sem vacilações, fazendo-o com a profunda convicção de quem sabe que trabalhou muito e que nada deixou ao acaso. Não se admire o leitor se, num qualquer livro de gestão, encontrar por aí estas recomendações para quem está ao leme de uma empresa, pois na verdade o futebol é a verdadeira essência do significado da palavra «empresa»: conjunto de pessoas que se propuseram atingir algo em conjunto.
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