Voltaram os comentários ao blog de Francisco José Viegas. Na altura em que ele decidiu suspendê-los, eu tinha uma crónica sobre blogs numa revista. Escrevi sobre o assunto. Isto…
As devidas diferenças
Tenho um blog. Coisa de dois ou três meses, não mais. E até aqui nunca tinha pensado muito no que algum visitante pudesse lá colocar. Só uma vez tive problemas, não com um comentário de que não tenha gostado (esses, há que aguentar), mas com um a descair para o ordinário. Não é de admirar um tal descanso; a ideia que tenho é a de que pelo blog passam uns visitantes de vez em quando, uns amigos, uns familiares, ou então algum desgraçado que ande perdido, sem encontrar a saída, nas auto-estradas – como se dizia nos primeiros anos destas coisas – da informação. Por isso, quanto a comentários, quase que só no dia em que o rei faz anos; e sendo Portugal uma república – que cada vez mais pessoas defendem ser das bananas – então está-se mesmo a ver o que me calha.
Já o mesmo não acontecia com Francisco José Viegas. Com ele, ou antes, no blog dele, os comentadores eram mais do que muitos, atropelavam-se uns aos outros, interpelavam-se também uns aos outros e, pior do que isso, interpelavam o próprio autor, e por vezes pareciam mesmo com vontade de atropelá-lo. E então deu nisto, ou melhor, deu num post de Francisco José Viegas do dia 23 de Julho que dizia assim: «Este blog deixa, a partir de hoje, de ter comentários. Não tem a ver com a publicação de ‘opiniões contrárias’ no espaço do blog destinado aos comentários – nunca houve censura. Mas qualquer blogger tem direito a manter limpo e decente o seu blog. A generalidade dos leitores do ‘A Origem das Espécies’ sempre foi cordata e correcta nos seus comentários, mas acaba por ser intolerável a presença de textos insultuosos nesse espaço que até agora foi público. Já há lixo a mais por aí fora. O endereço habitual de e-mail continua disponível, como sempre esteve, para todos os leitores que pretendam comentar ou ver publicadas as suas opiniões no ‘Origem’.»
Para mim, tirando um ou outro caso, o problema dos comentários do blog de Francisco José Viegas foi o mundial de futebol e as confusões com o Scolari, o Quaresma e mais uma data de cromos da bola. Umas opiniões sobre livros, ou sobre política, e a coisa ainda vai, mas quando se mete o futebol ao barulho as medidas são sempre outras. E, claro, o blog do ferrenho adepto Viegas começou a encher-se do tal «lixo» e dos tais «textos insultuosos», sendo que ainda por cima se trata de um tipo de «lixo» impossível de reciclar, nem com o recurso às mais avançadas técnicas de edição.
Francisco José Viegas tem publicado algumas mensagens que agora recebe por e-mail a propósito do que vai acontecendo no blog. Eis alguns exemplos, que dão para perceber o acolhimento que teve a decisão de acabar com os comentários: «(…) o direito ao contraditório é e será sempre um pilar fundamental da democracia. Energúmenos sempre houve e haverá, mal-educados idem aspas. Mas acredito que para combater a estupidez a melhor forma não é a mordaça. É, sim, o confronto intelectual.»/ «(…) para tentar dar alguma importância ao lixo, tento fazer notar que na ouverture [bela palavra…] de ‘A Origem das Espécies’ você cita Darwin para frisar que quer ‘consider the value of the differences between the so-called races of man’. Sinceramente, o lixo é tão fundamental para este propósito como qualquer centelha de razão, lucidez ou inspiração. (…) Acho a atitude ‘deixas-me dizer ao mundo que existo?’ legítima por parte do blogger comentador e acho ainda a atitude ‘vá lá, diz lá ao mundo que existes’ um sinal de extrema generosidade por parte do blogger comentado. (…) um comentário deixa-se com alguma impunidade no que diz respeito à relativa leviandade e inanidade do seu conteúdo. Um e-mail redige-se e envia-se com alguma reflexão. Suponho (ou espero) que lhe seja mais compensadora a leitura da correspondência do que a leitura dos comentários.»
Eu, cá no meu canto, noto que numa coisa levo vantagem a Francisco José Viegas. Raramente preciso de me chatear muito. Uma opinião dele não é como uma opinião minha, ou melhor, dizendo ao contrário e talvez de forma mais correcta, uma opinião minha não é como uma opinião dele. Há que ver, como se usa muitas vezes noutro tipo de construção frásica, as devidas diferenças. A verdade é que posso escrever as barbaridades que quiser no meu blog que nunca dá muita confusão. Posso até escrever coisas que dificilmente poderão ser consideradas barbaridades e o resultado será o mesmo. Pudesse Francisco José Viegas um dia desfrutar dessa tranquilidade…
As devidas diferenças
Tenho um blog. Coisa de dois ou três meses, não mais. E até aqui nunca tinha pensado muito no que algum visitante pudesse lá colocar. Só uma vez tive problemas, não com um comentário de que não tenha gostado (esses, há que aguentar), mas com um a descair para o ordinário. Não é de admirar um tal descanso; a ideia que tenho é a de que pelo blog passam uns visitantes de vez em quando, uns amigos, uns familiares, ou então algum desgraçado que ande perdido, sem encontrar a saída, nas auto-estradas – como se dizia nos primeiros anos destas coisas – da informação. Por isso, quanto a comentários, quase que só no dia em que o rei faz anos; e sendo Portugal uma república – que cada vez mais pessoas defendem ser das bananas – então está-se mesmo a ver o que me calha.
Já o mesmo não acontecia com Francisco José Viegas. Com ele, ou antes, no blog dele, os comentadores eram mais do que muitos, atropelavam-se uns aos outros, interpelavam-se também uns aos outros e, pior do que isso, interpelavam o próprio autor, e por vezes pareciam mesmo com vontade de atropelá-lo. E então deu nisto, ou melhor, deu num post de Francisco José Viegas do dia 23 de Julho que dizia assim: «Este blog deixa, a partir de hoje, de ter comentários. Não tem a ver com a publicação de ‘opiniões contrárias’ no espaço do blog destinado aos comentários – nunca houve censura. Mas qualquer blogger tem direito a manter limpo e decente o seu blog. A generalidade dos leitores do ‘A Origem das Espécies’ sempre foi cordata e correcta nos seus comentários, mas acaba por ser intolerável a presença de textos insultuosos nesse espaço que até agora foi público. Já há lixo a mais por aí fora. O endereço habitual de e-mail continua disponível, como sempre esteve, para todos os leitores que pretendam comentar ou ver publicadas as suas opiniões no ‘Origem’.»
Para mim, tirando um ou outro caso, o problema dos comentários do blog de Francisco José Viegas foi o mundial de futebol e as confusões com o Scolari, o Quaresma e mais uma data de cromos da bola. Umas opiniões sobre livros, ou sobre política, e a coisa ainda vai, mas quando se mete o futebol ao barulho as medidas são sempre outras. E, claro, o blog do ferrenho adepto Viegas começou a encher-se do tal «lixo» e dos tais «textos insultuosos», sendo que ainda por cima se trata de um tipo de «lixo» impossível de reciclar, nem com o recurso às mais avançadas técnicas de edição.
Francisco José Viegas tem publicado algumas mensagens que agora recebe por e-mail a propósito do que vai acontecendo no blog. Eis alguns exemplos, que dão para perceber o acolhimento que teve a decisão de acabar com os comentários: «(…) o direito ao contraditório é e será sempre um pilar fundamental da democracia. Energúmenos sempre houve e haverá, mal-educados idem aspas. Mas acredito que para combater a estupidez a melhor forma não é a mordaça. É, sim, o confronto intelectual.»/ «(…) para tentar dar alguma importância ao lixo, tento fazer notar que na ouverture [bela palavra…] de ‘A Origem das Espécies’ você cita Darwin para frisar que quer ‘consider the value of the differences between the so-called races of man’. Sinceramente, o lixo é tão fundamental para este propósito como qualquer centelha de razão, lucidez ou inspiração. (…) Acho a atitude ‘deixas-me dizer ao mundo que existo?’ legítima por parte do blogger comentador e acho ainda a atitude ‘vá lá, diz lá ao mundo que existes’ um sinal de extrema generosidade por parte do blogger comentado. (…) um comentário deixa-se com alguma impunidade no que diz respeito à relativa leviandade e inanidade do seu conteúdo. Um e-mail redige-se e envia-se com alguma reflexão. Suponho (ou espero) que lhe seja mais compensadora a leitura da correspondência do que a leitura dos comentários.»
Eu, cá no meu canto, noto que numa coisa levo vantagem a Francisco José Viegas. Raramente preciso de me chatear muito. Uma opinião dele não é como uma opinião minha, ou melhor, dizendo ao contrário e talvez de forma mais correcta, uma opinião minha não é como uma opinião dele. Há que ver, como se usa muitas vezes noutro tipo de construção frásica, as devidas diferenças. A verdade é que posso escrever as barbaridades que quiser no meu blog que nunca dá muita confusão. Posso até escrever coisas que dificilmente poderão ser consideradas barbaridades e o resultado será o mesmo. Pudesse Francisco José Viegas um dia desfrutar dessa tranquilidade…
Blogs consultados: http://www.origemdasespecies.blogspot.com/ («A Origem das Espécies»), mantido por Francisco José Viegas; e o meu, é claro, mas muito a correr.
3 comentários:
Pois...
há tanto a dizer sobre isso...
mas não entendo (mesmo sendo famoso...) a existência de um "blog" sem comentários.
É preferível utilizar as formas que existem para afastar palavras e visitantes indesejados.
Mas é apenas uma opinião pessoal...
Esse problema nunca tive. Até estimulo a criatividade no insulto. O que fiz foi deixar de escrever posts. Continuo só nas caixas de comentários do Ganda Ordinarice.
Quem não quer ter chatices não tem caixa de comentários.
Luís e Luís
A mim o pior que me acontece nos comentários é nas coisas sobre futebol. Até já houve que comentasse que eu é que escrevo «à maluca», por causa de um post em que eu disse que o Polga faz cortes à maluca.
António
Enviar um comentário