A propósito do segundo comentador referido no post anterior, sobre o jogo do Sporting com o Bétis de Sevilha, recupero aqui um texto que escrevi em Dezembro de 2001 (para uma crónica da abertura das tardes desportivas do fim-de-semana, numa rádio). É um texto sobre um dos piores árbitros que o futebol português conheceu nas últimas décadas, Isidoro Rodrigues. Ontem quem apanhou com o «Isidoro Rodrigues» foi o árbitro do jogo, Lucílio Baptista. O segundo comentador, não sei por quê, teimava em chamar-lhe, imagine-se, «Isidoro Rodrigues». Aqui fica o texto, sobre um árbitro que depois haveria de tornar-se cantor (ver foto).
Há muito, muito tempo...
Há muito, muito tempo, ainda o senhor Isidoro Rodrigues era uma criança como árbitro, o Sporting foi ao Funchal defrontar o União da Madeira. Era um jogo muito importante, porque os adversários mais directos, nomeadamente o Futebol Clube do Porto, tinham feito maus resultados no dia anterior. Uma vitória colocava a equipa no primeiro lugar e fazia os adeptos sonharem com o regresso do título, depois de 1982.
Estava a ser um jogo, como dizem os mais inspirados comentadores do pontapé na bola, sem história. Até que a certa altura, com os minutos já bem avançados, o ponta-de-lança Cadete, então conhecido como «o capitão Jorge Cadete», cabeceou a bola já dentro da grande área do União da Madeira. Quando os adeptos gritavam golo, de repente, um futuro jogador do Sporting, o brasileiro Marco Aurélio (um defesa central extraordinário), resolveu agarrar a bola com as duas mãos, mesmo em cima da linha de baliza. Segurou-a bem firme, mas só por um ou dois segundos, e depois atirou-a pela linha de cabeceira.
Não foi golo, mas nenhum sportinguista se importou. Era penalty, o que haveria de ir dar ao mesmo. Mas não, o árbitro, sem que alguém percebesse por quê, assinalou pontapé de canto. A favor do Sporting, é certo, mas apenas pontapé de canto.
Se fosse agora, depois da carreira que esse árbitro veio a construir, ninguém estranharia que de um lance assim ele arranjasse inclusive um pontapé de canto a favor do União da Madeira. Mas ele ainda não era conhecido; como árbitro ainda era uma criança. Isidoro Rodrigues, que ao tempo se arrastava pelas divisões secundárias, foi parar ao jogo à última hora, e aproveitou para fazer das dele. O Sporting não venceu, e a luta pelo campeonato ficou, uma vez mais, comprometida.
Ainda hoje, pelo que se vai observando, o senhor Isidoro Rodrigues continua uma criança como árbitro. Provavelmente por ter escutado nalgum dia de sol mais intenso aquela frase que fala de o melhor do mundo serem as crianças. Talvez algum raio de sol lhe tenha trocado os raciocínios. Logo a ele, que como árbitro, por certo, deve ter sonhado que um dia haveria de ser o melhor do mundo. [texto de 2001]
Há muito, muito tempo...
Há muito, muito tempo, ainda o senhor Isidoro Rodrigues era uma criança como árbitro, o Sporting foi ao Funchal defrontar o União da Madeira. Era um jogo muito importante, porque os adversários mais directos, nomeadamente o Futebol Clube do Porto, tinham feito maus resultados no dia anterior. Uma vitória colocava a equipa no primeiro lugar e fazia os adeptos sonharem com o regresso do título, depois de 1982.
Estava a ser um jogo, como dizem os mais inspirados comentadores do pontapé na bola, sem história. Até que a certa altura, com os minutos já bem avançados, o ponta-de-lança Cadete, então conhecido como «o capitão Jorge Cadete», cabeceou a bola já dentro da grande área do União da Madeira. Quando os adeptos gritavam golo, de repente, um futuro jogador do Sporting, o brasileiro Marco Aurélio (um defesa central extraordinário), resolveu agarrar a bola com as duas mãos, mesmo em cima da linha de baliza. Segurou-a bem firme, mas só por um ou dois segundos, e depois atirou-a pela linha de cabeceira.
Não foi golo, mas nenhum sportinguista se importou. Era penalty, o que haveria de ir dar ao mesmo. Mas não, o árbitro, sem que alguém percebesse por quê, assinalou pontapé de canto. A favor do Sporting, é certo, mas apenas pontapé de canto.
Se fosse agora, depois da carreira que esse árbitro veio a construir, ninguém estranharia que de um lance assim ele arranjasse inclusive um pontapé de canto a favor do União da Madeira. Mas ele ainda não era conhecido; como árbitro ainda era uma criança. Isidoro Rodrigues, que ao tempo se arrastava pelas divisões secundárias, foi parar ao jogo à última hora, e aproveitou para fazer das dele. O Sporting não venceu, e a luta pelo campeonato ficou, uma vez mais, comprometida.
Ainda hoje, pelo que se vai observando, o senhor Isidoro Rodrigues continua uma criança como árbitro. Provavelmente por ter escutado nalgum dia de sol mais intenso aquela frase que fala de o melhor do mundo serem as crianças. Talvez algum raio de sol lhe tenha trocado os raciocínios. Logo a ele, que como árbitro, por certo, deve ter sonhado que um dia haveria de ser o melhor do mundo. [texto de 2001]
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