Chega hoje às livrarias o meu novo romance (ed. AMBAR), de que tenho vindo a falar aqui. Deixo a seguir uma sinopse e o início.
Sinopse
Uma estranha carta sobre o romance de António Manuel Venda «O Medo Longe de Ti», publicado em 2003, chega ao autor através da editora, depois de para lá ter sido enviada por um homem que assina J. D. Sapinho Júnior. Trata-se de um velho livreiro de Évora que parece muito interessado numa das personagens e que a certa altura escreve o seguinte: «poderia ajudar-me desde já se, na volta do correio, me enviasse (caso tenha nos seus apontamentos) uma descrição o mais detalhada possível de uma personagem do seu último romance, o mágico velhinho, personagem da qual, em todo o texto (que li por diversas vezes), não abunda a caracterização». O livreiro tem uma longa história para contar.
(«O que Entra nos Livros», de António Manuel Venda, Ed. AMBAR, 200 pp.)
O início
Chamo-me António Manuel Venda. Talvez não devesse começar assim, até porque se este relato for publicado, imaginemos que sob a forma de livro, o nome do autor aparecerá na capa. E depois, no interior, é bem provável que esse mesmo nome seja repetido quase até à exaustão, no topo de cada uma das páginas da esquerda, as de numeração par, numa espécie de desafio ao título, que dominará cada uma das da direita. Mas também há a hipótese de este relato não conhecer a publicação, e aí as coisas já serão diferentes. Se alguma pessoa o encontrar, nem interessa agora estar com especulações sobre o tipo de suporte, poderá querer logo saber quem o escreveu. Neste caso, a presença do nome a abrir o texto não será despropositada. Mas adiante, que os factos são muitos e importa deixá-los escritos antes que a memória, a minha memória, os remeta para um qualquer compartimento enevoado, daqueles onde as coisas parecem ser apenas o resultado de um sonho.
Em Setembro de 2003 publiquei um romance intitulado «O Medo Longe de Ti». Conta uma história de amor. Um jovem escritor português, que vive rodeado pelas suas personagens, encontra na Alemanha a rapariga mais bonita do mundo. Os dois apaixonam-se, mas o jovem escritor acaba por fugir. Isso acontece quando o medo de algum dia perder a rapariga se torna mais forte do que ele. Abandona um programa de estudos numa universidade da Floresta Negra em que ambos se tinham matriculado e viaja de regresso a Portugal. Uma das suas personagens, um mágico pequenino e de idade avançada, que lhe apareceu pela primeira vez quando estava na floresta em cima de uma árvore, faz a mesma viagem. O jovem escritor chega a imaginar como ele o segue num carro de modelo igual ao seu, e da mesma cor, mas de dimensões bem mais reduzidas. E as outras personagens acabarão por fazer um percurso idêntico, os «amigos», como o jovem escritor diz, e os «seres maus», expressão que também lhe pertence. Dezoito ou dezanove anos depois, o escritor, que nunca tirou da cabeça a rapariga mais bonita do mundo, e que continua a viver rodeado pelas suas personagens, inclusive pelo mágico, que é referido ao longo do romance apenas como mágico velhinho, tem um encontro surpreendente, em Lisboa, durante um debate literário.
Este é um resumo da história de «O Medo Longe de Ti». Por causa desse romance, durante os meses seguintes à sua publicação participei nalgumas iniciativas, principalmente em bibliotecas ou livrarias, além de feiras do livro. Falei da história, li pequenos excertos, conversei com leitores, estive em debates, dei alguns autógrafos... Enfim, a mesma coisa que tinha acontecido com os livros anteriores. Até que um dia, mais de um ano depois de o livro ter aparecido nas livrarias, corria o mês de Janeiro de 2005, aconteceu algo absolutamente… Bem, ia para escrever surpreendente, mas não, foi mais do que isso, muito mais.
Tudo começou com um envelope que recebi dos serviços da editora e que deixei uns dias em cima da secretária, por abrir, pensando que se tratava do convite para o lançamento de algum livro. Quando finalmente o abri, dei-me conta de que não era nada disso, de que se tratava de uma carta de alguém a tentar contactar-me através do endereço da editora. Não aparecia o nome de uma pessoa no remetente, mas sim o de uma livraria: «Sapinho Livros Lda». Confesso que não senti uma grande curiosidade em ver o conteúdo, tanto que coloquei a carta na pasta do trabalho e só à noite, ao arrumar alguns documentos, acabei por ficar a saber de que é que se tratava. Tinha apenas um cartão e uma folha A4, escrita de um dos lados, à mão, numa caligrafia muito cuidada e com uns curiosos salamaleques nas letras maiúsculas. Dizia assim…
Caríssimo escritor A. M. Venda
Escreve-lhe J. D. Sapinho Júnior para convidá-lo a deslocar-se à sua humilde livraria, em Évora, no endereço que poderá ver no cartão em anexo. Não é um convite para uma palestra sobre o seu último romance, nem tão-pouco para uma sessão de autógrafos. É, antes, para uma conversa comigo, que seria bom que tivesse lugar no espaço da livraria, e sobre a qual (a conversa, não a livraria) desde já lhe peço o mais absoluto sigilo. Agradeço que me confirme a sua vinda através do número de telefone que aparece no cartão.
Não tenho o seu endereço, nem sei onde reside (talvez em Lisboa, como boa parte dos nossos escritores), pelo que resolvi contactá-lo através da prestigiada casa que o edita.
Não tenho o seu endereço, nem sei onde reside (talvez em Lisboa, como boa parte dos nossos escritores), pelo que resolvi contactá-lo através da prestigiada casa que o edita.
Cumprimenta-o,
J. D. Sapinho Júnior
Acrescento – poderia ajudar-me desde já se, na volta do correio, me enviasse (caso tenha nos seus apontamentos) uma descrição o mais detalhada possível de uma personagem do seu último romance, o mágico velhinho, personagem da qual, em todo o texto (que li por diversas vezes), não abunda a caracterização.
O meu primeiro impulso foi…
7 comentários:
Parabéns pelo novo livro.
abraço
carlos antunes
ÓPtima abertura (e fim de trecho bem editado). Parabéns
António, Parabéns pelo novo livro.
Entretanto diga-me: Encontrou-se com J.D.Sapinho Junior?
T
Obrigado pelos votos das mensagens.
Resposta a T: há vários encontros com o senhor Sapinho.
Parabéns pela edição do livro. Fico com curiosidade acerca dele...
Raul, obrigado.
Ai é? o António já teve então vários encontros com Sr.Sapinho? E que tal?
T (que tb assina por C, num outro contexto...)
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