Um golo de Pedro Barbosa
Houve tempos em que eu tive uma crónica numa rádio. Era sobre futebol e abria as transmissões dos relatos que lá faziam rádio ao fim-de-semana. Para cada crónica, eu tinha sempre um texto de suporte. Em finais de 2001 não consegui deixar de lado o meu fascínio por um golo de Pedro Barbosa num jogo em que o Sporting foi ganhar ao Funchal, ao Marítimo, por dois a zero. Lembro-me de que o jogo estava um bocado complicado, depois de Jardel ter feito o primeiro golo, de penalty. Pedro Barbosa, com uma jogada deslumbrante, inimaginável antes de acontecer, resolveu as coisas. Foi com a bola até junto da bandeirola de canto do lado esquerdo do ataque do Sporting e depois, de lá, levou-a até à baliza do Marítimo, onde a fez entrar perante o espanto geral. O Sporting haveria de ganhar o campeonato uns meses depois. Essa crónica chamava-se «O génio». O texto de suporte era assim…
O génio… A crónica de hoje é sobre o génio.
Há uns tempos, um jornalista fez um trabalho sobre os convocados para a selecção portuguesa de futebol em que pedia a diversos escritores um texto sobre o seu jogador preferido. Quando me contou a história, alguns dias depois, o jornalista perguntou-me: «Se te tivesse convidado, terias aceite escrever sobre algum dos jogadores?» Disse-lhe que provavelmente não, porque nunca tive ídolos no futebol. Sempre me preocupei com o meu clube, o Sporting, e com a selecção. Fossem lá quais fossem os jogadores das duas equipas, desde que mostrassem resultados...
Mais tarde lembrei-me de que não era bem assim. Eu poderia ter escrito sobre um jogador que sempre tenho considerado uma excepção, Pedro Barbosa. E o título do texto seria, simplesmente, «O génio».
Foi o que pensei. Havia mesmo uma excepção, para além da grande excepção Diego Maradona, que para azar da nossa equipa nacional não nasceu português. Pedro Barbosa, o capitão do Sporting, foi sempre um jogador diferente para mim. Apesar da imagem que lhe associaram, curiosamente a partir de uma referência elogiosa do seu treinador mais marcante, Quinito. A imagem de se arrastar pelos relvados, cansado, sem capacidade de luta.
Para mim, essa é uma das injustiças de apreciação dos muitos intelectuais portugueses do pontapé na bola. Porque sempre vi o capitão do Sporting exactamente como o génio. Com ele em campo, eu sinto uma enorme segurança em relação ao meu clube. Porque sei que com ele as coisas estão controladas, e que a qualquer momento, quando menos se esperar, ele poderá inventar um golo. Como há uma semana, no Funchal, numa das fugazes aparições que o treinador Boloni lhe tem permitido. Com o Marítimo, nos poucos minutos em que esteve em campo, Pedro Barbosa voltou a mostrar que é mesmo o génio; ele, apenas ele.
Num tempo em que os títulos dos jornais raramente vão além de uma palavra – «Confusão», «Guerra», «Lágrimas», «Yes», «Esperança», «Vitória», «Sistema», «Bomba», «Gelo», «Inferno», «Felicidade», «Portugal» e por aí adiante, num tempo assim, Pedro Barbosa, o génio, conseguiu fazer com que um diário desportivo colocasse em título uma frase mais bem composta, «Pedro Barbosa marcou um golo extraordinário». Para seguir a moda, talvez no jornal devessem ter optado apenas por uma palavra. «Génio», obviamente.
Houve tempos em que eu tive uma crónica numa rádio. Era sobre futebol e abria as transmissões dos relatos que lá faziam rádio ao fim-de-semana. Para cada crónica, eu tinha sempre um texto de suporte. Em finais de 2001 não consegui deixar de lado o meu fascínio por um golo de Pedro Barbosa num jogo em que o Sporting foi ganhar ao Funchal, ao Marítimo, por dois a zero. Lembro-me de que o jogo estava um bocado complicado, depois de Jardel ter feito o primeiro golo, de penalty. Pedro Barbosa, com uma jogada deslumbrante, inimaginável antes de acontecer, resolveu as coisas. Foi com a bola até junto da bandeirola de canto do lado esquerdo do ataque do Sporting e depois, de lá, levou-a até à baliza do Marítimo, onde a fez entrar perante o espanto geral. O Sporting haveria de ganhar o campeonato uns meses depois. Essa crónica chamava-se «O génio». O texto de suporte era assim…
O génio… A crónica de hoje é sobre o génio.
Há uns tempos, um jornalista fez um trabalho sobre os convocados para a selecção portuguesa de futebol em que pedia a diversos escritores um texto sobre o seu jogador preferido. Quando me contou a história, alguns dias depois, o jornalista perguntou-me: «Se te tivesse convidado, terias aceite escrever sobre algum dos jogadores?» Disse-lhe que provavelmente não, porque nunca tive ídolos no futebol. Sempre me preocupei com o meu clube, o Sporting, e com a selecção. Fossem lá quais fossem os jogadores das duas equipas, desde que mostrassem resultados...
Mais tarde lembrei-me de que não era bem assim. Eu poderia ter escrito sobre um jogador que sempre tenho considerado uma excepção, Pedro Barbosa. E o título do texto seria, simplesmente, «O génio».
Foi o que pensei. Havia mesmo uma excepção, para além da grande excepção Diego Maradona, que para azar da nossa equipa nacional não nasceu português. Pedro Barbosa, o capitão do Sporting, foi sempre um jogador diferente para mim. Apesar da imagem que lhe associaram, curiosamente a partir de uma referência elogiosa do seu treinador mais marcante, Quinito. A imagem de se arrastar pelos relvados, cansado, sem capacidade de luta.
Para mim, essa é uma das injustiças de apreciação dos muitos intelectuais portugueses do pontapé na bola. Porque sempre vi o capitão do Sporting exactamente como o génio. Com ele em campo, eu sinto uma enorme segurança em relação ao meu clube. Porque sei que com ele as coisas estão controladas, e que a qualquer momento, quando menos se esperar, ele poderá inventar um golo. Como há uma semana, no Funchal, numa das fugazes aparições que o treinador Boloni lhe tem permitido. Com o Marítimo, nos poucos minutos em que esteve em campo, Pedro Barbosa voltou a mostrar que é mesmo o génio; ele, apenas ele.
Num tempo em que os títulos dos jornais raramente vão além de uma palavra – «Confusão», «Guerra», «Lágrimas», «Yes», «Esperança», «Vitória», «Sistema», «Bomba», «Gelo», «Inferno», «Felicidade», «Portugal» e por aí adiante, num tempo assim, Pedro Barbosa, o génio, conseguiu fazer com que um diário desportivo colocasse em título uma frase mais bem composta, «Pedro Barbosa marcou um golo extraordinário». Para seguir a moda, talvez no jornal devessem ter optado apenas por uma palavra. «Génio», obviamente.
4 comentários:
Isto deve andar mesmo mal. Puxo pela carola, puxo pela carola e...nada. Não me recordo.Deste e de outros golos. E hoje estou indeciso entre ficar a ver o Valência com o Chelsea ou ir ao concerto da Shakira no Pav. Atlântico, armado em jovem.
Era realmente um jogador fabuloso... mas faltava-lhe qualquer coisa, para ser um génio.
Nunca percebi porque razão ele e o Capucho não foram capazes de assumir o papel de Figo e Rui Costa (que estavam tão mal fisicamente...), na Selecção, no Mundial de 2002.
Foi pena faltar-lhe esta força, este querer dos grandes campeões.
Mas foi fabuloso, embora jogasse ao sabor da inspiração. Raramente fazia dois jogos seguidos perfeitos.
Do que me lembro, Capucho, mesmo que quisesse talvez não conseguisse (só há muitos, muitos anos é que Bobby Robson teve dúvidas entre Figo e Capucho, no Sporting), apesar de ter sido um jogador muito bom. Quanto ao Pedro Barbosa, só o seleccionador da vergona de 2002 (António Oliveira) saberá por que é que arrumou com ele no banco.
Corrijo, seleccionador da vergonha, não da vergona.
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