domingo, 18 de fevereiro de 2007

Azar e não só


Paços de Ferreira – 1, Sporting – 1 (Liedson). Era um jogo para ganhar, não porque o adversário desse garantias de que isso pudesse acontecer assim sem mais nem menos, mas porque, ao contrário do que dizia o outro, havia necessidade. Assim, com um empate, perde-se um pouco da esperança que as azelhices do Porto tinham feito renascer. E, curiosamente, por causa de uma azelhice. O seu autor, Caneira, já é por demais conhecido, mas não por toda a gente. Paulo Bento, por exemplo, de certeza que não o conhece verdadeiramente, de contrário não o punha a jogar, e os próprios responsáveis do Sporting a mesma coisa, ou não teimariam em mantê-lo no clube (ou na sade, sei lá já como chamar). Impressionou-me como num jogo absolutamente controlado, em que a equipa até estava a falhar golos e com algum azar (situação que se manteria até final), impressionou-me, dizia, a jogada do golo do empate. Um avançado do Paços de Ferreira (jovem, de nome Cristiano, mas formado noutras academias que não as do Sporting) avançou com a bola perante a passividade de Caneira e depois deu no que deu: um remate ainda de muito longe que só parou dentro da baliza de Ricardo. Caneira, além de ser medíocre a jogar futebol (consegue fazer uns cortes e uns remates, mas com a bola nos pés não sabe o que há-de fazer porque simplesmente não a controla), além disso, tem um problema, uma espécie de «síndrome de Custódio» que por vezes o afecta e que o torna apático, resignado, mole, desligado. Isso podia acontecer-lhe quando está em casa, ou até num treino (Paulo Bento de certeza que desculpava), mas logo num jogo a sério e precisamente no momento em que um adversário, lutador, possante, combativo, decidido, corre com a bola para a baliza do Sporting, bom, aí é mesmo um suicídio. Não o de Caneira, é óbvio, porque à esquerda, à direita, ao centro, sei lá eu mais onde, há-de jogar na equipa principal e na volta até na selecção nacional; o suicídio foi o do Sporting, ou seja, Caneira, o encustodiozado Caneira, ontem à noite, ia o jogo em setenta minutos, suicidou o Sporting. Já tinha feito o mesmo com o Porto em Alvalade (num grupinho com os outros dois jogadores-problema que ontem alinharam, Polga e Ricardo), ia fazendo há uma semana em casa contra o nacional quando se lembrou de rematar para a própria baliza, e depois quando se lembrou de agredir um adversário com uma chapada na cara, e por aí adiante. Talvez ontem, na altura em que ficou nas calmas a ensaiar uma corrida controlada enquanto o jogador do Paços de Ferreira embalava para rematar ainda de muito longe à baliza de Ricardo, na mesma altura em que dele se apossava a «síndrome de Custódio», talvez tenha pensado nesse estranho capitão, na sua postura de estátua que por vezes ganha vida mas só para se desviar de algum adversário que queira passar mais à vontade; talvez tenha visualizado inclusive os momentos que precederam o segundo golo do Benfica em Alvalade, esta época, o seu antigo colega Simão embalado para a baliza de Ricardo, e o capitão, o mais incompreensível capitão da história do Sporting, a desviar-se, não fosse estragar uma jogada de golo, ainda por cima do Benfica, e contra o Sporting. Talvez esse estranho capitão fizesse o mesmo se estivesse perto da área contrária, e quem corresse para a abaliza fosse, por exemplo, o talentoso Liedson, talvez se desviasse também, para Liedson se isolar e depois, à saída de Quim, fazer a bola passar por qualquer sítio, o mais inimaginável até, para só parar nas redes do Benfica. Afinal, já diz este estranho capitão, embora por outras palavras, Benfica e Sporting é tudo a mesma coisa. Talvez Caneira o possa dizer também.

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