Já agora, outro texto sobre um livro, que também mete – e muito – o criminoso chileno que morreu no domingo.
Livro: «Salvador Allende – O Crime da Casa Branca», de Patricia Verdugo (Campo das Letras, 197 pp.)
A casa suspeita do costume
Uma investigação sobre os acontecimentos que levaram à morte de Salvador Allende no dia 11 de Setembro de 1973. Às mãos sujas de Pinochet & friends, chilenos e de mais a norte.
No dia 11 de Setembro de 1973, em Santiago, capital do Chile, o general Augusto Pinochet conversava com um colega de golpe. Dizia assim, referindo-se a Salvador Allende, que viria a morrer nesse dia: «Tenho a impressão de que o senhor civil arrancou nos blindados. E Mendoza não tem contacto com ele?» Respondeu o colega, almirante, de nome Patricio Carvajal: «Não, mas nos blindados não fugiu. Os carros de assalto partiram antes e eu posteriormente falei com ele pelo telefone.» Pinochet disse então: «De acordo. Nesse caso, é preciso impedir a saída e, se ele sair, é preciso prendê-lo.» Pinochet, mais adiante, dizia que era preciso uma rendição incondicional para quem fosse preso, e que era preciso prometer respeitar a vida dessas pessoas. «A vida e a sua integridade física e de seguida despacha-se para qualquer lado.» Carvajal acabou por perguntar se mantinham então a oferta de fazer Allende sair do país, depois de preso. E Pinochet respondeu que sim… «Mantém-se a oferta de o fazer sair do país... E o avião pode cair, por ser velho, quando estiver no mar.»
Este e outros diálogos, com o passar do tempo, acabaram por ser revelados ao mundo. Para vergonha de um mundo que permitiu, e insiste em permitir, que tantos tiranos levem a sua avante, ajudados pela mão nem sempre invisível da casa branca de Washington. Vejamos então outro diálogo, também de 11 de Setembro de 1973, e que Patricia Verdugo reproduz em «Salvador Allende – O Crime da Casa Branca». O almirante é o mesmo, mas o general muda; desta vez é Javier Palacios, também da tropa manhosa de Pinochet. Palacios, frente ao cadáver de Allende, fala de forma lacónica em «missão cumprida», em «La Moneda tomada» e em «presidente morto». Fala em castelhano. Já Carvajal prefere o inglês para comunicar as revelações a outros cabecilhas: «They say that Allende commited suicide and is dead now.»
Patricia Verdugo escreve: «Talvez não fosse casual e o almirante soubesse que o estavam a escutar na estação da CIA, facilitando assim a comunicação de tão importante notícia. Talvez… Podemos dar por assente que Nixon e Kissinger [Prémio Nobel da Paz???] o souberam antes do resto dos chilenos.» A autora, jornalista chilena premiada internacionalmente, e activista dos direitos humanos, apresenta uma investigação que só não é absolutamente surpreendente porque nos dias que correm já se sabe o que a casa gasta; a branca, já se vê.
Livro: «Salvador Allende – O Crime da Casa Branca», de Patricia Verdugo (Campo das Letras, 197 pp.)
A casa suspeita do costume
Uma investigação sobre os acontecimentos que levaram à morte de Salvador Allende no dia 11 de Setembro de 1973. Às mãos sujas de Pinochet & friends, chilenos e de mais a norte.
No dia 11 de Setembro de 1973, em Santiago, capital do Chile, o general Augusto Pinochet conversava com um colega de golpe. Dizia assim, referindo-se a Salvador Allende, que viria a morrer nesse dia: «Tenho a impressão de que o senhor civil arrancou nos blindados. E Mendoza não tem contacto com ele?» Respondeu o colega, almirante, de nome Patricio Carvajal: «Não, mas nos blindados não fugiu. Os carros de assalto partiram antes e eu posteriormente falei com ele pelo telefone.» Pinochet disse então: «De acordo. Nesse caso, é preciso impedir a saída e, se ele sair, é preciso prendê-lo.» Pinochet, mais adiante, dizia que era preciso uma rendição incondicional para quem fosse preso, e que era preciso prometer respeitar a vida dessas pessoas. «A vida e a sua integridade física e de seguida despacha-se para qualquer lado.» Carvajal acabou por perguntar se mantinham então a oferta de fazer Allende sair do país, depois de preso. E Pinochet respondeu que sim… «Mantém-se a oferta de o fazer sair do país... E o avião pode cair, por ser velho, quando estiver no mar.»
Este e outros diálogos, com o passar do tempo, acabaram por ser revelados ao mundo. Para vergonha de um mundo que permitiu, e insiste em permitir, que tantos tiranos levem a sua avante, ajudados pela mão nem sempre invisível da casa branca de Washington. Vejamos então outro diálogo, também de 11 de Setembro de 1973, e que Patricia Verdugo reproduz em «Salvador Allende – O Crime da Casa Branca». O almirante é o mesmo, mas o general muda; desta vez é Javier Palacios, também da tropa manhosa de Pinochet. Palacios, frente ao cadáver de Allende, fala de forma lacónica em «missão cumprida», em «La Moneda tomada» e em «presidente morto». Fala em castelhano. Já Carvajal prefere o inglês para comunicar as revelações a outros cabecilhas: «They say that Allende commited suicide and is dead now.»
Patricia Verdugo escreve: «Talvez não fosse casual e o almirante soubesse que o estavam a escutar na estação da CIA, facilitando assim a comunicação de tão importante notícia. Talvez… Podemos dar por assente que Nixon e Kissinger [Prémio Nobel da Paz???] o souberam antes do resto dos chilenos.» A autora, jornalista chilena premiada internacionalmente, e activista dos direitos humanos, apresenta uma investigação que só não é absolutamente surpreendente porque nos dias que correm já se sabe o que a casa gasta; a branca, já se vê.
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