Pois é isso mesmo; como escrevi há uns dias ali abaixo, houve tempos em que as coisas estiveram piores no Sporting. Passados três meses sobre o texto do Leandro, de ele ser «um bom miúdo» (Fevereiro de 1998), publiquei outro, que coloco a seguir. Estávamos em Maio e o campeonato aproximava-se do final.
Carlos, o chacalzinho
Está a chegar ao fim mais um campeonato nacional de futebol e o Sporting conseguiu mesmo à justa apurar-se para as competições europeias. Custa-me escrever isto, com esta frieza, mas foi exactamente o que aconteceu. E quem assistiu aos últimos jogos sabe bem que só por sorte é que tão estranho objectivo foi alcançado. Porque a verdade é que o Sporting poderia não ter ganho nenhum desses jogos, poderia mesmo ter perdido a maior parte deles. E teria ficado pelo meio da classificação. Até há uns meses, os sportinguistas fartavam-se de dizer piadas relacionadas com o facto de Artur Jorge ter sido o coveiro do Benfica. Agora o melhor é ficarem calados, porque o Sporting também já arranjou o seu Artur Jorge. Quando se esperava, ou melhor, quando alguns dirigentes esperavam um leão, saiu-lhes um pobre chacal, um chacalzinho, Carlos como o terrorista, mas futebolisticamente mais inofensivo do que um gato recém-nascido.
Carlos, o chacalzinho, acabou por viver no Sporting a mesma luta que viveu há um ano no Salgueiros, a luta por um lugar na cada vez menos prestigiada Taça UEFA. O ano passado não o conseguiu, porque o seu melhor jogador, Abílio, falhou um penalty em Faro. Este ano conseguiu-o, e logo à custa de um jogador de pescoço pequeno, Vidigal, que mesmo assim chegou de cabeça mais alto do que os gigantes da defesa do Belenenses. O destino tem coisas destas, e contrariá-lo é sempre uma carga de trabalhos. As duas situações vividas pelo inofensivo Carlos, no entanto, não deviam ter nada a ver com o Sporting. Porque o Sporting, por mais que os seus dirigentes definam estratégias que a nenhum elemento dos pequenos cantores de Viena ficariam mal, o Sporting, dizia, não é um clube para andar envolvido nessas guerrazinhas. Carlos, o chacalzinho, é que parece ter vocação para tais empreendimentos. Só que, infelizmente, cruzou-se com o caminho do Sporting, ou melhor, saiu-lhe ao encontro, para o envolver na sua auréola bem peculiar.
Há dois anos, o Sporting contratou, segundo se falava, o melhor treinador da Bélgica, o senhor Robert Waseige, e logo houve quem o comparasse, vá-se lá saber por quê, a um assador de castanhas. E, de facto, fosse ou não o melhor treinador da Bélgica, o senhor Waseige não conseguiu grande coisa por cá. Só que não serviu de emenda aos responsáveis do Sporting, porque depois dos cantatores e dos «chicos vitais» de que nem o Diabo mais inventivo se haveria de lembrar, foram buscar para dirigir a equipa, parece que a troco de cinco mil contos por mês e, se calhar, de um saco de chupa-chupas, um perfeito continuador da saga. Carlos, o chacal de pistola de água, não perdeu tempo e começou a fazer das suas. Primeiro que tudo, com medo sabe-se lá de que sombras, rodeou-se dos amigos, que bem diz o ditado que são mesmo para as ocasiões. E num ápice o Sporting viu-se com um secretário-técnico que antes era roupeiro do Salgueiros, e com os jogadores Renato e Leão, que vinham de ser titularíssimos da equipa do Salgueiros. E com um tal Madureira a treinador de guarda-redes, ele que antes treinava os guarda-redes do Salgueiros e enquanto jogador fora uma grande referência das balizas, precisamente, do Salgueiros. E também com um tal Agatão a preparador-físico, o mesmo que antes era preparador-físico de um clube da cidade dita invicta (o Salgueiros, como não podia deixar de ser) e que nos seus tempos de jogador tinha feito carreira no Boavista e no Estrela da Amadora, depois de tempos de glória num outro chamado O Elvas.
Claro que com um pequeno chacal e com tais ajudantes de aprendiz de felino ao comando, o Sporting passou a fazer no campeonato o papel do Salgueiros, do Boavista e do Estrela da Amadora, umas vezes alternadamente, outras ao mesmo tempo. E, quem sabe, se as coisas não mudarem, não fará algum dia o papel do outro o que se chama O Elvas. Tudo isto com a agravante de o tal Madureira, por exemplo, dizer aos jornalistas para perguntarem aos jogadores por que é que a equipa passou a jogar mal. E de Carlos, o chacalzinho, dizer que «o Leandro é um bom miúdo» e que «o Beto é um puto giro» e que «estão a fazer coisas bonitas», mas que no jogo tal «não foram tão sérios» como no jogo tal e coiso. E também que acerca do próximo jogo não revela pormenores da táctica, porque assim «os gajos iam ficar a saber». Os «gajos», enfim, «quer dizer, os adversários, os outros, os malandros, aqueles malandros». De Agatão e do secretário-técnico roupeiro é que, ao menos isso, quase não se ouve uma palavra.
Assim, os sócios e os adeptos tiveram de passar a gramar, ou melhor, «a suportar», como diria José Roquette numa linguagem mais de acordo com os meios empresariais, a suportar uma tropa que em três tempos pôs uma equipa relativamente competitiva a arrastar-se pelas ruas da amargura. Sempre com Carlos, o chacalzinho, a assumir o papel de general. Os sócios começaram a ver nas conferências de imprensa um técnico a dizer que não sabia «as razões do mau rendimento da equipa» e que via «boas exibições» em jogos de uma pobreza sub-sahariana. E começaram a notar os atrasos aos treinos e as noitadas das vedetas mais bem parecidas. E também que Carlos, o Chacalzinho, controlava o nervoso com chupa-chupas e dava pulos no banco como um macaco telecomandado sabe-se lá por que criança traquina. E que dizia tencionar «fazer revoluções no plantel», decerto para afastar os nomes marcantes do Sporting, aqueles ainda capazes de confrontá-lo com a realidade do seu pequeno mundo futebolístico. «Revoluções» para colocar bem colocados na vida, e no Sporting, é claro, os nandinhos e os marcos severos da sua devoção. Tudo isto, pensado ao quilómetro na cabeça do chacalzinho, para «mudar o clube de alto a baixo» e «transformá-lo num Ajax». Exactamente, «num Ajax», foi o que ele disse. Provavelmente estava a referir-se ao Ajax Limpa Vidros.
Carlos, o chacalzinho
Está a chegar ao fim mais um campeonato nacional de futebol e o Sporting conseguiu mesmo à justa apurar-se para as competições europeias. Custa-me escrever isto, com esta frieza, mas foi exactamente o que aconteceu. E quem assistiu aos últimos jogos sabe bem que só por sorte é que tão estranho objectivo foi alcançado. Porque a verdade é que o Sporting poderia não ter ganho nenhum desses jogos, poderia mesmo ter perdido a maior parte deles. E teria ficado pelo meio da classificação. Até há uns meses, os sportinguistas fartavam-se de dizer piadas relacionadas com o facto de Artur Jorge ter sido o coveiro do Benfica. Agora o melhor é ficarem calados, porque o Sporting também já arranjou o seu Artur Jorge. Quando se esperava, ou melhor, quando alguns dirigentes esperavam um leão, saiu-lhes um pobre chacal, um chacalzinho, Carlos como o terrorista, mas futebolisticamente mais inofensivo do que um gato recém-nascido.
Carlos, o chacalzinho, acabou por viver no Sporting a mesma luta que viveu há um ano no Salgueiros, a luta por um lugar na cada vez menos prestigiada Taça UEFA. O ano passado não o conseguiu, porque o seu melhor jogador, Abílio, falhou um penalty em Faro. Este ano conseguiu-o, e logo à custa de um jogador de pescoço pequeno, Vidigal, que mesmo assim chegou de cabeça mais alto do que os gigantes da defesa do Belenenses. O destino tem coisas destas, e contrariá-lo é sempre uma carga de trabalhos. As duas situações vividas pelo inofensivo Carlos, no entanto, não deviam ter nada a ver com o Sporting. Porque o Sporting, por mais que os seus dirigentes definam estratégias que a nenhum elemento dos pequenos cantores de Viena ficariam mal, o Sporting, dizia, não é um clube para andar envolvido nessas guerrazinhas. Carlos, o chacalzinho, é que parece ter vocação para tais empreendimentos. Só que, infelizmente, cruzou-se com o caminho do Sporting, ou melhor, saiu-lhe ao encontro, para o envolver na sua auréola bem peculiar.
Há dois anos, o Sporting contratou, segundo se falava, o melhor treinador da Bélgica, o senhor Robert Waseige, e logo houve quem o comparasse, vá-se lá saber por quê, a um assador de castanhas. E, de facto, fosse ou não o melhor treinador da Bélgica, o senhor Waseige não conseguiu grande coisa por cá. Só que não serviu de emenda aos responsáveis do Sporting, porque depois dos cantatores e dos «chicos vitais» de que nem o Diabo mais inventivo se haveria de lembrar, foram buscar para dirigir a equipa, parece que a troco de cinco mil contos por mês e, se calhar, de um saco de chupa-chupas, um perfeito continuador da saga. Carlos, o chacal de pistola de água, não perdeu tempo e começou a fazer das suas. Primeiro que tudo, com medo sabe-se lá de que sombras, rodeou-se dos amigos, que bem diz o ditado que são mesmo para as ocasiões. E num ápice o Sporting viu-se com um secretário-técnico que antes era roupeiro do Salgueiros, e com os jogadores Renato e Leão, que vinham de ser titularíssimos da equipa do Salgueiros. E com um tal Madureira a treinador de guarda-redes, ele que antes treinava os guarda-redes do Salgueiros e enquanto jogador fora uma grande referência das balizas, precisamente, do Salgueiros. E também com um tal Agatão a preparador-físico, o mesmo que antes era preparador-físico de um clube da cidade dita invicta (o Salgueiros, como não podia deixar de ser) e que nos seus tempos de jogador tinha feito carreira no Boavista e no Estrela da Amadora, depois de tempos de glória num outro chamado O Elvas.
Claro que com um pequeno chacal e com tais ajudantes de aprendiz de felino ao comando, o Sporting passou a fazer no campeonato o papel do Salgueiros, do Boavista e do Estrela da Amadora, umas vezes alternadamente, outras ao mesmo tempo. E, quem sabe, se as coisas não mudarem, não fará algum dia o papel do outro o que se chama O Elvas. Tudo isto com a agravante de o tal Madureira, por exemplo, dizer aos jornalistas para perguntarem aos jogadores por que é que a equipa passou a jogar mal. E de Carlos, o chacalzinho, dizer que «o Leandro é um bom miúdo» e que «o Beto é um puto giro» e que «estão a fazer coisas bonitas», mas que no jogo tal «não foram tão sérios» como no jogo tal e coiso. E também que acerca do próximo jogo não revela pormenores da táctica, porque assim «os gajos iam ficar a saber». Os «gajos», enfim, «quer dizer, os adversários, os outros, os malandros, aqueles malandros». De Agatão e do secretário-técnico roupeiro é que, ao menos isso, quase não se ouve uma palavra.
Assim, os sócios e os adeptos tiveram de passar a gramar, ou melhor, «a suportar», como diria José Roquette numa linguagem mais de acordo com os meios empresariais, a suportar uma tropa que em três tempos pôs uma equipa relativamente competitiva a arrastar-se pelas ruas da amargura. Sempre com Carlos, o chacalzinho, a assumir o papel de general. Os sócios começaram a ver nas conferências de imprensa um técnico a dizer que não sabia «as razões do mau rendimento da equipa» e que via «boas exibições» em jogos de uma pobreza sub-sahariana. E começaram a notar os atrasos aos treinos e as noitadas das vedetas mais bem parecidas. E também que Carlos, o Chacalzinho, controlava o nervoso com chupa-chupas e dava pulos no banco como um macaco telecomandado sabe-se lá por que criança traquina. E que dizia tencionar «fazer revoluções no plantel», decerto para afastar os nomes marcantes do Sporting, aqueles ainda capazes de confrontá-lo com a realidade do seu pequeno mundo futebolístico. «Revoluções» para colocar bem colocados na vida, e no Sporting, é claro, os nandinhos e os marcos severos da sua devoção. Tudo isto, pensado ao quilómetro na cabeça do chacalzinho, para «mudar o clube de alto a baixo» e «transformá-lo num Ajax». Exactamente, «num Ajax», foi o que ele disse. Provavelmente estava a referir-se ao Ajax Limpa Vidros.
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