Quinta-feira ao princípio da noite. Um bocadinho atrasado, ainda
fui a tempo de ouvir a intervenção do Paulo Moreiras, a explicar as peripécias
que rodearam a escrita de «O Ouro dos Corcundas», que acabo de ler com enorme
gosto. Uma intervenção onde também recordou de forma tocante como há já alguns
anos, em 2002, na mesma livraria, apresentou o seu romance de estreia, o
inesquecível «A Demanda de D. Fuas Bragatela», de que ainda tinha por esses
dias conseguido mostrar um exemplar ao pai, pouco antes de este morrer.
Deixo aqui um bocadinho de «O Ouro dos Corcundas», cuja
acção se passa no século XIX, ao tempo da guerra entre liberais e absolutistas:
«(...) Ao passar pelo pelourinho, na esquina de uma casa, saltou-lhe ao
caminho, qual abantesma ou avejão, o Trombeta, todo finório, com o cabelo
azeitado – para assim matar os piolhos e as lêndeas – e vestido como se fosse a
um casamento.
– Ó assombração, que susto me pregaste – disse Miquelina, irritada com a
aparição. – Que fazes aqui?
– Por onde andou a menina, que não lhe deito olho durante todo este tempo? – perguntou
o labroste, com enxofrados modos, enquanto empacotava dois dedais de esturrinho
nas ventas. (...)»
Regressei a casa já bem de noite. Conduzindo pelo escuro do
montado, a certa altura quase deixava fugir o carro na estrada de terra, a
caminho de um dos sobreiros, tudo por causa das correrias dos javalis, que
pareciam felizes debaixo da chuvada. Ontem à noite eram apenas dois, mas dos
grandes, bem grandes. Já no rádio do carro, outras correrias, sempre com os
inevitáveis Papandreou, Duarte Lima e Isaltino. Acabei por mudar para a RFM.
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