domingo, 6 de novembro de 2011

Apresentação de «O Ouro dos Corcundas»


Quinta-feira ao princípio da noite. Um bocadinho atrasado, ainda fui a tempo de ouvir a intervenção do Paulo Moreiras, a explicar as peripécias que rodearam a escrita de «O Ouro dos Corcundas», que acabo de ler com enorme gosto. Uma intervenção onde também recordou de forma tocante como há já alguns anos, em 2002, na mesma livraria, apresentou o seu romance de estreia, o inesquecível «A Demanda de D. Fuas Bragatela», de que ainda tinha por esses dias conseguido mostrar um exemplar ao pai, pouco antes de este morrer.
Deixo aqui um bocadinho de «O Ouro dos Corcundas», cuja acção se passa no século XIX, ao tempo da guerra entre liberais e absolutistas:
«(...) Ao passar pelo pelourinho, na esquina de uma casa, saltou-lhe ao caminho, qual abantesma ou avejão, o Trombeta, todo finório, com o cabelo azeitado – para assim matar os piolhos e as lêndeas – e vestido como se fosse a um casamento.
– Ó assombração, que susto me pregaste – disse Miquelina, irritada com a aparição. – Que fazes aqui?
– Por onde andou a menina, que não lhe deito olho durante todo este tempo? – perguntou o labroste, com enxofrados modos, enquanto empacotava dois dedais de esturrinho nas ventas. (...)»
Regressei a casa já bem de noite. Conduzindo pelo escuro do montado, a certa altura quase deixava fugir o carro na estrada de terra, a caminho de um dos sobreiros, tudo por causa das correrias dos javalis, que pareciam felizes debaixo da chuvada. Ontem à noite eram apenas dois, mas dos grandes, bem grandes. Já no rádio do carro, outras correrias, sempre com os inevitáveis Papandreou, Duarte Lima e Isaltino. Acabei por mudar para a RFM.

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