domingo, 13 de fevereiro de 2011

Nas bifanas

Sexta à noite. Regresso tardio de Lisboa com paragem em Vendas Novas para jantar a correr numa das novas casas de sopas e bifanas. A um canto, quatro tipos de fato preto. Veio-me à ideia que podiam ser do FMI ou de outra instituição qualquer, desde que parecida; foi logo ao entrar, como se na mesa houvesse indicação de ela estar reservada exactamente para o FMI (ou para outra instituição qualquer, desde que parecida). Nenhum dos quatro dispensava o computador portátil, e isso tornava a arrumação das comidas em cima da mesa uma coisa muito mas mesmo muito complicada. O que parecia valer é que não tinham pedido sopa, iam só mesmo pelas batatas fritas e, obviamente, pelas bifanas (a que um, nos elogios que fazia em inglês por vezes técnico, se referia, baixinho, como «peculiar hamburger»). Mesmo com os computadores, não dispensavam as máquinas de calcular, dando-lhes uso de cada vez que metiam as manápulas nas pastas e retiravam papéis para juntar à pilha que se tinha já formado no centro da mesa. Pastas pretas como os fatos, e folhas brancas cheias de números pretos e nalguns casos vermelhos e a bold. Aquele que parecia ser o chefe, bem mais velho do que os outros, de cada vez que lhe confirmavam um número abanava a cabeça energicamente mas com uma expressão desalentada que não condizia nada com a rapidez dos movimentos. Tipo estanho… Claro que salpicava os colegas com o molho da bifana, mas eles, estranhamente, não protestavam. Percebiam as nódoas nas camisas brancas e nas gravatas, mostravam desagrado por caretas momentâneas, mas não diziam nada. Saíram os quatro ao mesmo tempo que eu e meteram-se em direcção a Lisboa, num Jaguar preto com motorista de cartola.
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1 comentário:

M. Nunes disse...

Caro António,
Estes cartolas com quem o meu amigo se cruzou entre os sorvos de sopa e as mordidas nas bifanas, não podem ser do FMI. Como sabe, a benemérita instituição costuma destacar para as suas missões em Portugal mulheres interessantes e apelativas (como aquela do tempo do Dr. Soares, hoje infelizmente já um bocado estragada).
Assim, penso que aqueles figurões de que nos dá nota na muito impressiva descrição da sua crónica, só podem ser investidores da Rússia branca ou representantes de capitais árabes que vêm tentar comprar o Sporting a preço de saldo. Para não darem nas vistas, deixaram o avião em Badajoz e vieram para Lisboa de automóvel. Está a ver, se já houvesse TGV não se dava por nada... Às tantas estão conluiados com o JEB.
Ainda bem que o meu amigo os topou.
Vigilância, camarada!