Publiquei este texto na revista «human» deste mês. É do meu amigo Luís Bento. Não resisto a colocá-lo aqui.
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Por favor, a economia antes da moral!
Sei que este título é atrevido e contraria muitas das teses correntes sobre o assunto. Eu próprio apregoo o contrário. Mas existem circunstâncias especiais em que, inevitavelmente, a economia vem antes da moral. São situações muito especiais, confesso, mas existem.
Recentemente, fui encarregue de propor conclusões num workshop internacional sobre trabalho infantil, realizado em Genève (Suíça), pela Fair Labor Association. Durante o dia, assisti, com muito espanto, confesso, a uma apresentação sobre o trabalho infantil na região de Sialkot, no Paquistão, onde são produzidas anualmente 35 milhões (35, sim, não é erro) de bolas de futebol das mais variadas marcas internacionais.
A quase totalidade dessas bolas de futebol é cozida à mão (stitching) por crianças em idade escolar (a maioria entre os quatro e os 12 anos) e esse trabalho é efectuado em família. Ora, várias organizações não governamentais (ONG) efectuaram um trabalho de campo, com o objectivo de sensibilizar os pais dessas crianças e o governo da região para que esse trabalho fosse efectuado em centros de cozimento (stitching center´s), com o argumento de que era imoral – ou seja, contrário à moral – que aquelas crianças não fossem à escola.
Parece que não acharam imoral – ou seja, contrário à moral – que as crianças continuassem a realizar um trabalho que devia estar a cargo de maiores de idade, qualificados e devidamente remunerados.
Em vez de tentarem melhorar as condições económicas daquelas famílias – nem que fosse subsidiando-as directamente –, as ONG acabaram por criar uma nova figura: o trabalho infantil em ambiente protegido.
De facto, pese embora a imoralidade do trabalho infantil, ele só existe – naquele e noutros casos, porque as famílias não têm outro meio de subsistência. Nenhum pai ou nenhuma mãe, em qualquer cultura, religião ou quadro moral, prefere ter os filhos a trabalhar em vez de os ter na escola.
Este é, claramente, um dos casos em que a economia vem antes da moral.
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Por favor, a economia antes da moral!
Sei que este título é atrevido e contraria muitas das teses correntes sobre o assunto. Eu próprio apregoo o contrário. Mas existem circunstâncias especiais em que, inevitavelmente, a economia vem antes da moral. São situações muito especiais, confesso, mas existem.
Recentemente, fui encarregue de propor conclusões num workshop internacional sobre trabalho infantil, realizado em Genève (Suíça), pela Fair Labor Association. Durante o dia, assisti, com muito espanto, confesso, a uma apresentação sobre o trabalho infantil na região de Sialkot, no Paquistão, onde são produzidas anualmente 35 milhões (35, sim, não é erro) de bolas de futebol das mais variadas marcas internacionais.
A quase totalidade dessas bolas de futebol é cozida à mão (stitching) por crianças em idade escolar (a maioria entre os quatro e os 12 anos) e esse trabalho é efectuado em família. Ora, várias organizações não governamentais (ONG) efectuaram um trabalho de campo, com o objectivo de sensibilizar os pais dessas crianças e o governo da região para que esse trabalho fosse efectuado em centros de cozimento (stitching center´s), com o argumento de que era imoral – ou seja, contrário à moral – que aquelas crianças não fossem à escola.
Parece que não acharam imoral – ou seja, contrário à moral – que as crianças continuassem a realizar um trabalho que devia estar a cargo de maiores de idade, qualificados e devidamente remunerados.
Em vez de tentarem melhorar as condições económicas daquelas famílias – nem que fosse subsidiando-as directamente –, as ONG acabaram por criar uma nova figura: o trabalho infantil em ambiente protegido.
De facto, pese embora a imoralidade do trabalho infantil, ele só existe – naquele e noutros casos, porque as famílias não têm outro meio de subsistência. Nenhum pai ou nenhuma mãe, em qualquer cultura, religião ou quadro moral, prefere ter os filhos a trabalhar em vez de os ter na escola.
Este é, claramente, um dos casos em que a economia vem antes da moral.
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Nota
Saberão os jogadores de futebol mais bem pagos do mundo que cada pontapé que dão numa bola é um pontapé que estão a dar na cara triste de uma criança?
Não deveriam desenvolver uma campanha para que as bolas de futebol tivessem uma etiqueta «Child Labor Free»?
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4 comentários:
Um post que deixa qualquer um a pensar...este post vou usa-lo numa das minhas aulas para levar os meus alunos a pensar e a ponderar sobre o que têm como uma dado adquirido e ao qual, em muito dos casos, não dão o devido valor: a educação. Muitos deles não vêem a possibilidade da escola como um direito adquirido mas quase como uma obrigação. É óbvio que os interesses e as necessidades variam de pessoa para pessoa, mas gostaria que todos eles percebessem que há crianças e jovens que não têm sequer a opção de escolha. E eles têm. E isso...é muitas vezes esquecido...
Acho que fez muito bem em publicá-lo aqui e, se me permite a sugestão, penso que o deveria fazer chegar a alguns jogadores. Nunca se sabe se a sua Nota poderá a vir a ter um efeito mais efectivo, que não só o já louvável, de nos fazer reflectir.
Um Abraço.
Obrigado pelos vossos dois comentários. Tinha de colocar este texto do Luís aqui; é muito bom, como aliás a generalidade do que escreve.
Abraço,
António
Para os lados do Paquistão preferem claramente ter os filhos noutro lugar que não a escola...principalmente as filhas.
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