A bruxa turca
Se me contassem o mais certo seria eu não acreditar. Mas é verdade. Passou uma bruxa por cá. Era alta, espadaúda e feia; muito alta e muito espadaúda, e um bocadinho feia, para ser simpático. Apareceu a meio da tarde, de alforge ao ombro e numa velocidade que facilmente se poderia classificar como incompreensível (por ser muita). A certa altura da conversa que fez questão de que acontecesse com todos os presentes – conversa colectiva, já se vê, ela de um lado, os outros todos do outro –, acabou por dizer que era turca. Só que depois, quando um de nós lhe perguntou pela razão de se expressar num francês mais do que fluente, bom, o que ela fez foi passar à frente e não responder. Eu achei que a conversa ia durar umas duas horas, tal era o entusiasmo que a bruxa gerava em todos nós (e o entusiasmo que todos nós parecíamos gerar nela). Mas não durou. Foi apenas uns dez minutos. Apareceu um ouriço-cacheiro, um ainda novo que agora deu em andar por cá. Deve-se ter enganado na hora de procurar comida. Era meio da tarde e ele costuma vir à noite. Ficou um bocado assustado, não sei se por ver-nos todos juntos se por causa da bruxa, e em menos de nada se enrolou. Foi o suficiente para a bruxa desaparecer; quer dizer, ela não desapareceu assim tipo dissolver-se no ar, não, desapareceu foi a correr que nem uma maluca e a gritar umas coisas que não me pareceram ser em francês, mas pelo meio dava para perceber que metia a expressões «mon dieu». Fiquei com a ideia de que ela nunca tinha visto um ouriço-cacheiro, ou então, se tinha visto, desconhecia que quando um ouriço-cacheiro se enrola todo fica feito numa bola de espinhos. Enfim, alguma coisa foi, porque o raio da mulher desapareceu mesmo. Com a pressa, acabou até por se esquecer cá de uma vassoura amarela que começa logo a emitir uns ruídos muito estranhos se lhe pressionarmos o cabo mais ou menos a meio.
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Se me contassem o mais certo seria eu não acreditar. Mas é verdade. Passou uma bruxa por cá. Era alta, espadaúda e feia; muito alta e muito espadaúda, e um bocadinho feia, para ser simpático. Apareceu a meio da tarde, de alforge ao ombro e numa velocidade que facilmente se poderia classificar como incompreensível (por ser muita). A certa altura da conversa que fez questão de que acontecesse com todos os presentes – conversa colectiva, já se vê, ela de um lado, os outros todos do outro –, acabou por dizer que era turca. Só que depois, quando um de nós lhe perguntou pela razão de se expressar num francês mais do que fluente, bom, o que ela fez foi passar à frente e não responder. Eu achei que a conversa ia durar umas duas horas, tal era o entusiasmo que a bruxa gerava em todos nós (e o entusiasmo que todos nós parecíamos gerar nela). Mas não durou. Foi apenas uns dez minutos. Apareceu um ouriço-cacheiro, um ainda novo que agora deu em andar por cá. Deve-se ter enganado na hora de procurar comida. Era meio da tarde e ele costuma vir à noite. Ficou um bocado assustado, não sei se por ver-nos todos juntos se por causa da bruxa, e em menos de nada se enrolou. Foi o suficiente para a bruxa desaparecer; quer dizer, ela não desapareceu assim tipo dissolver-se no ar, não, desapareceu foi a correr que nem uma maluca e a gritar umas coisas que não me pareceram ser em francês, mas pelo meio dava para perceber que metia a expressões «mon dieu». Fiquei com a ideia de que ela nunca tinha visto um ouriço-cacheiro, ou então, se tinha visto, desconhecia que quando um ouriço-cacheiro se enrola todo fica feito numa bola de espinhos. Enfim, alguma coisa foi, porque o raio da mulher desapareceu mesmo. Com a pressa, acabou até por se esquecer cá de uma vassoura amarela que começa logo a emitir uns ruídos muito estranhos se lhe pressionarmos o cabo mais ou menos a meio.
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