sexta-feira, 8 de agosto de 2008

A história de Lucy

A minha passagem pela Feira do Livro de Faro foi um pouco estranha. Estive com os outros escritores dentro de um stand a falar para as pessoas que apareceram para assistir e cuja única alternativa que tinham era ficar de pé no meio da rua. A certa altura, lembrei-me de um comício. Nunca tinha estado numa situação assim. No site da câmara de Faro está escrito que se trata de «uma das mais importantes realizações culturais a sul»; talvez por isso mesmo devesse merecer outra dignidade, não para os escritores (falo por mim, obviamente), mas para o público.
Ficou-me um episódio, a propósito da intervenção de um dos escritores espanhóis (Gabriel Cruz). A certa altura ele disse que ia ler três pequenas histórias. Duas delas eram mesmo muito curtas, já a terceira era um pouco maior. Quando o ouvi ler o título desta última história não estranhei, mas depois, à medida que ele avançava, comecei a ficar confuso, porque a história não tinha muito a ver com o título que eu tinha ouvido, nem mais nem menos do que «Lucy descai» (com o «e» acentuado na segunda palavra). A história chegou ao fim sem eu perceber quase nada, até que passados uns minutos me lembrei de que o escritor tinha dito que uma das histórias era uma homenagem aos Beatles. De repente tudo começou a fazer sentido para mim, porque o título não era «Lucy descai», como eu tinha percebido. A história, afinal, só podia chamar-se «Lucy in the sky».
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6 comentários:

Manuel Nunes disse...

Os espanhóis afinal é que deviam falar devagar. Sobretudo quando não o fazem na própria língua.

adsensum disse...

Gostaria de o ter reencontrado, António, em mais uma Feira, mas confesso que cada vez menos rumo a Sul. Cada vez menos me identifico com romarias como a da fuga para o Algarve no Verão. Cada vez menos tenho paciência para aturar multidões e atropelos.
Fica para a próxima.
Um abraço.

Anónimo disse...

D. E. :

Comentário com humor. O pior é que o desprazer de ouvir, arrastava-se por mais tempo. Atenção, ninguém leia nisto xenofobismo. Eles não têm é jeito para línguas estrangeiras porque, naturalmente, não estão predispostos a isso. Salvo raras excepções.

Mas, pelo rumo das coisas, pode ser que, em breve, tenham de aprender "mandarim".

Anónimo disse...

Bolas!
Ainda deves ter ficado com a cabeça à roda durante um bocado.
Os tipos são a parte de trás de um acidente, no que respeita a línguas.

Em 1995, em Setembro, estive de férias em Vigo durante uns 15 dias. Num deles "tirei licença sem vencimento" e não fui para as Ilhas Cies.

Fiquei a "papar" via TV espanhola cinco jogos de futebol das competições europeias, entre eles um Real Madrid--Sporting em que o Figo brilhou a grande altura.

Como deves imaginar,fartei-me de ver anúncios. Num deles, a anunciar um curso de línguas, o inglês da miúda escolhida era tão mau que eu dei uma gargalhada, rebolei na cama do hotel e caí para o chão. Onde continuei a rir sozinho...

Mas há duas horas gostei de ouvir os comentários em espanhol, na TVE, à prova de ciclismo dos Jogos.
Ouvir os comentadores a vibrar com a vitória do SAMU (Samuel Sanchez) foi altamente folclórico.
Claro que o Andy Shleck era o "Esléque" e se eu não o conhecesse nem ia lá...

Quanto ao tratamento dado ao público, em pé para ouvir os escritores, é simplesmente lamentável.
Não houve tempo para pensar um pouco numa coisa tão simples ou o calor era tanto que não se deu para pensar?

Anónimo disse...

Isso de deixar o público de pé, no meio da rua, não lembra a ninguém... Ainda por cima numa cidade que há pouco tempo foi Capital da Cultura.

Manuel Nunes disse...

O problema é dos fonemas vocálicos do castelhano que se limitam a 5 vogais orais e a 2 semivogais. Tenha-se em conta que o português dispõe de 9 vogais orais, 5 vogais nasais e 2 semivogais. Com tal pobreza fonemática é difícil a nuestros hermanos encarreirarem com as línguas estrangeiras.
(Sobre a fonética e fonologia do português, ver Celso Cunha e Lindley Cintra, "Breve Gramática do Português Contemporâneo").