A propósito do boicote referido no post anterior, deixo a seguir um excerto de um texto que publiquei na revista «Pessoal» há pouco mais de um ano; é do meu amigo Carlos Antunes (uma versão próxima da que foi publicada pode ser lida aqui).
Em geral, todos os observadores apontam para que a China se torne por volta de 2050 na maior economia mundial – só para se ter uma ideia de comparação, o produto interno bruto (PBI) da França será então o equivalente ao da província chinesa de Cantão –, mas estou em crer que tal acontecerá muito antes de meados deste século, convicção apenas baseada nas respostas que a «Mónica» [nome ocidental da guia] foi dando às minhas perguntas acerca da sociedade chinesa. Ela referiu-me números, realidades e crenças como as de que «os trabalhadores chineses não têm contrato de trabalho», que «embora o horário de trabalho seja de oito horas diárias o normal é a jornada alargar-se até às 16 sem qualquer remuneração extra, operários com ordenados da ordem dos 80 euros mensais – 150 nas zonas económicas especiais, como Zhuhai, o coração industrial da China, onde os operários trabalham, comem e dormem nas fábricas –, uma simples semana de férias anual por ocasião do novo ano lunar chinês, a liberalização total de despedimentos sem qualquer indemnização, 80% da população sem qualquer direito a segurança social, com a inexistência de pensões de reforma ou de protecção na saúde – apenas 20% dos funcionários do Estado têm algum nível de protecção social –, enfim, com o paradigma do conceito de trabalho chinês de que ‘enquanto a mãos trabalham a boca está fechada e o cinto apertado’…». Ou seja, não é difícil de perceber que num mercado de trabalho sem quaisquer direitos e com um tal nível de dumping social a China tem condições únicas para competir na economia globalizada sem que algum outro país lhe consiga fazer frente.
Mas há mais… A China tem uma população de 1.300 milhões habitantes, dos quais 85% (1.100 milhões) vivem no campo ao nível da agricultura de subsistência, e cuja passagem para o sector industrial mesmo com salários de 80/ 150 euros mensais significa um expressivo acréscimo do nível de vida para os que a ele têm acesso (a expansão económica chinesa das últimas duas décadas representou o maior processo de redução de pobreza alguma vez observado na História). Ou seja, o país dispõe de uma tão imensa reserva de mão-de-obra, em que os potenciais recursos humanos para o mercado de trabalho podem continuar a ser indefinidamente multiplicados, de modo a manter a tendência da alta remuneração do «capital» e da baixa remuneração do factor «trabalho».
Em geral, todos os observadores apontam para que a China se torne por volta de 2050 na maior economia mundial – só para se ter uma ideia de comparação, o produto interno bruto (PBI) da França será então o equivalente ao da província chinesa de Cantão –, mas estou em crer que tal acontecerá muito antes de meados deste século, convicção apenas baseada nas respostas que a «Mónica» [nome ocidental da guia] foi dando às minhas perguntas acerca da sociedade chinesa. Ela referiu-me números, realidades e crenças como as de que «os trabalhadores chineses não têm contrato de trabalho», que «embora o horário de trabalho seja de oito horas diárias o normal é a jornada alargar-se até às 16 sem qualquer remuneração extra, operários com ordenados da ordem dos 80 euros mensais – 150 nas zonas económicas especiais, como Zhuhai, o coração industrial da China, onde os operários trabalham, comem e dormem nas fábricas –, uma simples semana de férias anual por ocasião do novo ano lunar chinês, a liberalização total de despedimentos sem qualquer indemnização, 80% da população sem qualquer direito a segurança social, com a inexistência de pensões de reforma ou de protecção na saúde – apenas 20% dos funcionários do Estado têm algum nível de protecção social –, enfim, com o paradigma do conceito de trabalho chinês de que ‘enquanto a mãos trabalham a boca está fechada e o cinto apertado’…». Ou seja, não é difícil de perceber que num mercado de trabalho sem quaisquer direitos e com um tal nível de dumping social a China tem condições únicas para competir na economia globalizada sem que algum outro país lhe consiga fazer frente.
Mas há mais… A China tem uma população de 1.300 milhões habitantes, dos quais 85% (1.100 milhões) vivem no campo ao nível da agricultura de subsistência, e cuja passagem para o sector industrial mesmo com salários de 80/ 150 euros mensais significa um expressivo acréscimo do nível de vida para os que a ele têm acesso (a expansão económica chinesa das últimas duas décadas representou o maior processo de redução de pobreza alguma vez observado na História). Ou seja, o país dispõe de uma tão imensa reserva de mão-de-obra, em que os potenciais recursos humanos para o mercado de trabalho podem continuar a ser indefinidamente multiplicados, de modo a manter a tendência da alta remuneração do «capital» e da baixa remuneração do factor «trabalho».
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