segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

«Não sei se Sócrates é fascista.»

António Barreto, ontem, no «Público».

«(…) A vida portuguesa oferece exemplos todos os dias. A nova lei do controlo do tráfego telefónico permite escutar e guardar os dados técnicos (origem e destino) de todos os telefonemas. Os novos modelos de bilhete de identidade e de carta de condução, com acumulação de dados pessoais e registos históricos, são meios intrusivos. A vídeo-vigilância, sem limites de situações, de espaços e de tempo, é um claro abuso. A repressão e as represálias exercidas sobre funcionários são já publicamente conhecidas e geralmente temidas. A politização dos serviços de informação e a sua dependência directa da Presidência do Conselho de Ministros revela as intenções e os apetites do primeiro-ministro. A interdição de partidos com menos de 5.000 militantes inscritos e a necessidade de os partidos enviarem ao Estado a lista nominal dos seus membros é um acto de prepotência./ A pesada mão do Governo agiu na Caixa Geral de Depósitos e no Banco Comercial Português com intuitos evidentes de submeter essas empresas e de, através delas, condicionar os capitalistas, obrigando-os a gestos amistosos. A retirada dos nomes dos santos de centenas de escolas (e quem sabe se também, depois, de instituições, cidades e localidades) é um acto ridículo de fundamentalismo intolerante. As interferências do Governo nos serviços de rádio e televisão, públicos ou privados, assim como na ‘comunicação social’ em geral, sucedem-se. A legislação sobre a segurança alimentar e a actuação da ASAE ultrapassaram todos os limites imagináveis da decência e do respeito pelas pessoas. A lei contra o tabaco está destituída de qualquer equilíbrio e reduz a liberdade./ Não sei se Sócrates é fascista. Não me parece, mas, sinceramente, não sei. De qualquer modo, o importante não está aí. O que ele não suporta é a independência dos outros, das pessoas, das organizações, das empresas ou das instituições. Não tolera ser contrariado, nem admite que se pense de modo diferente daquele que organizou com as suas poderosas agências de intoxicação a que chama de comunicação. No seu ideal de vida, todos seriam submetidos ao Regime Disciplinar da Função Pública, revisto e reforçado pelo seu Governo. O primeiro-ministro José Sócrates é a mais séria ameaça contra a liberdade, contra a autonomia das iniciativas privadas e contra a independência pessoal que Portugal conheceu nas últimas três décadas. Temos de reconhecer: tão inquietante quanto esta tendência insaciável para o despotismo e a concentração de poder é a falta de reacção dos cidadãos. A passividade de tanta gente. Será anestesia? Resignação? Acordo? Só se for medo...»

3 comentários:

Luis Eme disse...

Concordo com A. Barreto, o governo está a passar as marcas...

Das coisas que mais me incomodam é a actual manipulação televisiva noticiosa, que quer fazer de Portugal um país perigoso e violento, para que as pessoas deixem de sair à noite de casa, para ficarem coladas à televisão, a ver novelas mediocres.

Anónimo disse...

Luís,

o primeiro-ministro talvez dissesse que a manipulação se destina a fazer com que as pessoas fiquem em casa a ler bons livros, e depois citava aqueles nomes todos que disse uma vez numa entrevista manhosa que um dos semanários lhe fez.

Um abraço,

António

Anónimo disse...

Acredite quem quiser. O que António Barreto disse, é quase um decalque do que eu comentei, em família, há quase dois anos!

Os sintomas cedo se manifestaram! O problema é sempre o mesmo: o tempo que demora o benefício da dúvida, mais modernamente designado por "estado de graça"! E que bem que ele soube aproveitar esse lapso de tempo! O campo já está quase todo minado. Agora, ainda por cima, temos de olhar para o chão para não irmos "pelos ares".