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Pouco ou nada sei sobre o novo vice-presidente da câmara, mas a descrição de Francisco Almeida Leite faz-me lembrar um tal Pacheco, criado por Eça há mais de cem anos. Ora vejam… «Pacheco não deu ao seu país nem uma obra, nem uma fundação, nem um livro, nem uma ideia. Pacheco era entre nós superior e ilustre unicamente porque tinha um imenso talento (...). O talento imenso de Pacheco ficou sempre calado, recolhido, nas profundidades de Pacheco! Constantemente ele atravessou a vida sobre eminências sociais: deputado, director-geral, ministro, governador de bancos, conselheiro de Estado, par, presidente do Conselho - Pacheco tudo foi, tudo teve, neste país que, de longe e a seus pés, o contemplava, assombrado com o seu imenso talento (...). A testa de Pacheco oferecia uma superfície larga e lustrosa. E muitas vezes, junto dele, conselheiros e directores-gerais balbuciavam maravilhados: - Nem é preciso mais! Basta ver aquela testa!»
Há, é claro, aquilo do «simpático», do «simpatiquíssimo» e mais o resto de que fala Francisco Almeida Leite. Eça não parece pintar o Pacheco da mesma forma. Por exemplo, aqui, numa resposta a um deputado da oposição, depois de este o ter criticado como Ministro do Reino… «Ao ilustre deputado que me censura só tenho a dizer que, enquanto S. Exa., aí nessas bancadas, faz berreiro, eu aqui nesta cadeira, faço luz!»
Já agora, Eça escrevia que «Pacheco e Portugal, de resto, necessitam insubstituivelmente um do outro». E justificava... «Sem Portugal Pacheco não teria sido o que foi entre os homens; mas sem Pacheco Portugal não seria o que é entre as nações!» E Lisboa, como ficará entre as cidades agora vice-presidida (ou sub-presidida, nem sei como se deve dizer) pelo «simpático» e «fino no trato» Perestrello.
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