domingo, 8 de julho de 2007

Textos sobre livros - 31

«Breve História de Quase Tudo», de Bill Bryson (Quetzal Editores, 495 pp.)

A ciência divertida

Aquele que é por muita gente considerado como o maior escritor de viagens da actualidade, num registo algo diferente do habitual, mas sempre fascinante. Notável a escrever, seja sobre a terra dos cangurus, seja sobre os seres que pulam na Grã-bretanha, Bill Bryson mostra em «Breve História de Quase Tudo» como a ciência pode ser uma terra de viagens divertidas e apaixonantes.

Distinguido em 2004 com o «Prémio Aventis», para a melhor obra de divulgação científica, esta «Breve História de Quase Tudo», do «viajante relutante» Bill Bryson, bem poderia fazer parte de algum pacote que apareça por cá à conta do tão apregoado choque tecnológico, de que cada vez se fala menos. O Ministério da Educação – ou o que tem a ver com a ciência e a tecnologia, ou até algum de outras temáticas, como a da economia (se tiver a palavra inovação agarrada) ou até, em último caso, o que trate da solidariedade social –, o Ministério da Educação, dizia, podia bem oferecer um exemplar desta fantástica viagem pela ciência a cada aluno do secundário. Talvez tivesse mais efeitos a médio prazo do que muito do que para aí venha à conta do tal choque.
O poder da escrita de Bryson, o mais lido escritor de viagens do mundo, é colocado aqui exclusivamente ao serviço da ciência, tornando algo capaz de assustar muita gente numa história fascinante (ou num emaranhado de histórias fascinantes), na qual as surpresas surgem a cada página. Porque Bryson fala sobretudo de coisas que dizem respeito a cada ser humano, e ao falar dessas coisas usa sempre um registo tremendamente divertido, deixando a ideia, até pela amostra dos livros de viagens que o tornaram famoso, de que não o faz propositadamente mas sim porque é essa a sua maneira de escrever. Átomos, quarks, aquecimento global, galáxias, partículas, dinossauros, tempestades, ozono, efeito estufa, doenças, estrelas, organismos, cromossomas, galáxias, urânio, asteróides, mil e uma coisas aparecem em menos de 500 páginas onde Bryson condensa a fantástica aventura de quase tudo aquilo que o ser humano conhece.
O ser humano, sempre o ser humano; as pessoas. Muito do fascínio que o livro transmite tem a ver, precisamente, com as pessoas, com as peripécias em que se viram envolvidas na descoberta de… quase tudo. Veja-se como Bryson fala a certa altura da famosa Madame Curie, vencedora de dois Prémios Nobel e que «nunca foi eleita para a Academia de Ciências, em grande parte por, depois da morte de Pierre, ter tido um caso com um físico casado que era suficientemente indiscreto para escandalizar até os franceses – ou, pelo menos, os velhotes que dirigem a academia, o que não será bem a mesma coisa»: «Durante muito tempo, pensou-se que uma coisa tão milagrosamente energética como a radioactividade só podia ser benéfica. Durante anos, vários fabricantes de pasta de dentes e laxantes puseram tório radioactivo nos seus produtos (…) A radioactividade só foi banida dos produtos de consumo em 1938. Nessa altura já era tarde de mais para Marie Curie, que morreu de leucemia em 1934. A radiação é tão perniciosa e duradoura que ainda hoje todos os seus artigos científicos de 1890 – até os seus livros de cozinha – são demasiado perigosos para serem manuseados livremente. Os seus livros de laboratório estão guardados dentro de caixas forradas a chumbo, e quem quiser consultá-los tem de usar roupas especiais de protecção.»
Veja-se ainda uma tirada sobre Isaac Newton: «em estudante, frustrado sobre as limitações da matemática convencional, inventou o cálculo, uma forma matemática inteiramente nova, mas não contou nada a ninguém durante 27 anos». Mas há mais, sempre assim, com a marca divertida de Bill Bryson.

Sem comentários: