Livro: «O Filho da Rainha Gorda», de Maria Filomena Mónica (Quetzal Editores, 78 pp.)
O jovem rei dos pesadelos
Uma história escrita para crianças mas que devia ser lida por jovens e por adultos. A vida de D. Maria II e do seu primeiro filho, que viria a ser D. Pedro V durante meia dúzia de anos na primeira metade do século XIX. Um jovem rei que tinha pesadelos, odiava políticos e era amado pelo seu povo.
A intenção de Maria Filomena Mónica era escrever um conto para os netos lerem, mas o projecto acabou por ir bem mais além. Uma conversa com a responsável da editora levou o que devia ser um conto de ficar por casa a surgir devidamente encadernado e com capa dura em inúmeras livrarias do país. Ganham muitas outras crianças, e ganham os jovens e os adultos que se queiram aventurar a conhecer as peripécias da rainha D. Maria II e da sua família, nomeadamente do primeiro filho, que viria a reinar, ainda que durante meia dúzia de anos, como D. Pedro V.
Do que conta a autora, nem tudo se reconhece dos manuais escolares da disciplina de História, que teimam em ir por caminhos um pouco diferentes. Maria Filomena Mónica conta uma história do Portugal da primeira metade do século XIX, mostrando o país real (o dos que viviam no paço e também o dos milhares que a tal não podiam aspirar). Talvez com «O Filho da Rainha Gorda» consigam muitas crianças perceber como se vivia por cá há mais de cento e cinquenta anos, e consigam responder com uma perna às costas a determinadas perguntas que lhes aparecem nos exames de História.
O livro é profusamente ilustrado, com retratos de algumas das personagens e gravuras de locais por onde estas se passearam, e até com aguarelas do marido da rainha gorda – não é engano, é mesmo do marido, o rei D. Fernando, o alemão com quem a senhora casou em Abril de 1836 e que na altura era conhecido por Fernando de Saxe Coburgo.
O jovem filho da gorda D. Maria acabaria por reinar como D. Pedro V depois de fazer dezoito anos (até aí, desde a morte da mãe, o pai assegurou a regência). Morreu aos vinte e quatro, já viúvo de uma princesa com origem em terras da Prússia e da qual se descobriu, no decorrer da autópsia, que mesmo tendo chegado a Portugal para dar filhos à coroa afinal continuava virgem. Mas tinha dormido com o marido rei, lá isso tinha, pelo menos a fazer fé numa carta referida por Maria Filomena Mónica. Depois do real casamento, a jovem Estefânia (que deu o nome ao conhecido hospital lisboeta, bem como à rua que por lá passa), rainha de Portugal, escrevia assim para a sua mãe, nas terras frias e distantes da Europa do Norte. «Senti-me bastante embaraçada, pouco à vontade, e acho, em suma, que este costume de os esposos dormirem juntos não é muito agradável.» Falava da noite de núpcias.
D. Pedro V, que andou sempre de candeias às avessas com os políticos, foi «o último dos reis amados». Dos seguintes não se conhece a mesma aversão, e talvez isso explique o amor do povo. Com a morte do jovem Pedro, terão suspirado de alívio muitos políticos. Partia um rei que costumava ter pesadelos, e nem os levava consigo. O país, dá para desconfiar, deve ter ficado de todos eles fiel depositário.
1 comentário:
Gosto da Filomena e vou gostar de ler este livro...
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