quinta-feira, 31 de maio de 2007

O espectáculo

Ontem, a caminho de Évora, ouvi no rádio do carro o anúncio do nome do mandatário de Carmona Rodrigues na candidatura à Câmara de Lisboa. Ruy de Carvalho foi apresentado como a terceira figura do espectáculo nestas eleições, depois do mandatário sénior de António Costa (Raul Solnado) e do mandatário mesmo só mandatário de José Sá Fernandes (José Fonseca e Costa). Achei piada a isto das três figuras do espectáculo, porque o que me dá a parecer é que nestas eleições há muitas, mesmo muitas figuras do espectáculo. Como noutras eleições, aliás.
Entretanto, em breve irei colocar aqui uma entrevista que fiz a Carmona Rodrigues há pouco mais de um ano e na qual ele dizia que na Câmara de Lisboa era «o capitão de equipa». Já coloquei uma com Sá Fernandes (os restantes nunca os entrevistei, tirando Garcia Pereira, mas numa coisa sobre o Código do Trabalho, o último, que agora já andam a pensar rever, código esse que Garcia Pereira classificava na entrevista como «um mono»). Se eu vivesse e votasse em Lisboa, provavelmente votaria em José Sá Fernandes.
Ainda voto na minha terra, em Monchique, onde não há muito tempo estive um ano como vereador (independente, e da oposição), a substituir um colega (que uma vez foi ameaçado pelo número três do executivo, que estava completamente embriagado e com dificuldades em segurar-se de pé, de que ainda haveria de deixar a câmara «pelas escadas abaixo»). Nesse ano, tirando uns insultos e mais umas coisas, digamos assim, menores, até que deu para ir levando as coisas. No meu romance «O que Entra nos Livros» (capa ali ao lado) dá para ficar a saber algumas das peripécias. De qualquer forma, algo curioso, e que não está no livro… Lembro-me de que quando entrei o presidente da câmara começou por me tratar por senhor doutor e um ano depois já dizia que eu não era gente. Aos poucos talvez coloque aqui algumas coisas que me fizeram passar de «senhor doutor» a «não ser gente».

4 comentários:

Anónimo disse...

Se calhar até seria interessante ficarmos a saber ("Aos poucos talvez coloque aqui algumas coisas que me fizeram passar de «senhor doutor» a «não ser gente».)...
para que percebessemos quem temos na câmara de Monchique...
Naturalmente, para quem ainda não sabe...
Acompanho com curiosidade o seu percurso e orgulho-me em tê-lo como conterrâneo.
Um abraço e desculpe não me identificar.

Sonhador disse...

Todos nós sabemos que muito tempo no poder modifica o carácter das pessoas. Temos bons exemplos. Por isso só quem lida de perto com elas, é que se vai apercebendo dessas modificações. Quando deixam o poder é que se apercebem o quanto estiveram errados, e dos amigos que nunca tiveram.

Anónimo disse...

Obrigado pelos dois comentários.
sim, contarei algumas histórias, claro.

Um abraço,

António

Anónimo disse...

As coisas são muito simples.

Um professor que tive no liceu, de nome José Spínola, disse isto à turma, em 1978:
"O meu nome é José Spínola, mas não tenho nada a ver com o General Spínola. Venho dar-vos Ciência Política, mas não venho fazer política. O objectivo de qualquer partido é alcançar o poder. Uma vez alcançado o poder, é mantê-lo".

Logo aí fiquei identificado. Dois anos depois, um professor de Filosofia do Propedêutico, Manuel Junqueira, foi brilhante na forma como me deu História da Filosofia. Quando chegámos a Nietzsche, percebi que o gajo tinha razão: a coisa-em-si kantiana é mesmo a vontade de poder.