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(…) Estava deitado em cima da cama, na cabana, quando o telefone tocou. Nem tive uma leve esperança de que fosses tu, e não sendo tu, fosse quem fosse... Até um pistoleiro que telefonasse dos confins da minha imaginação, mesmo a falar em inglês, com o sotaque arrastado do Texas, o mais terrível dos pistoleiros, a dar tiros enquanto falava, para que não me restassem dúvidas de que dizia a verdade quando se vangloriava de ser um verdadeiro matador. O pistoleiro. Maldito pistoleiro... Ele tinha visto a minha cara num papel pendurado num cacto, à saída da mítica cidade de Abilene, no Verão de 1888. E agora, dois anos passados sobre a descoberta do papel, já sem esperanças de me conseguir encontrar, agora, após muitos bandidos caçados nesse entretanto, um deles...
Um dos bandidos, mesmo antes de morrer, depois de um duelo, justo, frisou o matador, depois desse duelo justo, em El Paso, na rua principal, no meio da poeira, depois disso, e mesmo antes de morrer, o bandido tinha escrito no chão um número com o cano do revólver que não largava. Um número muito comprido, com muitos algarismos. O pistoleiro tinha ido ao posto de correios e pedido a ligação, e agora estava a avisar-me. Sim, o bandido tinha escrito o meu nome à frente do número, o mesmo nome que aparecia no cartaz pendurado no cacto pelo xerife de Abilene. O pistoleiro estava a avisar-me de que me iria buscar, vivo ou morto, para me entregar em Abilene. Ele iria ao fim do mundo para me encontrar, e tinha o meu contacto. O perigoso Joe Dangerous, como dizia chamar-se, capaz de atravessar terras sem fim só para me apanhar, capaz de saltar pelo tempo, capaz de fazer tudo o que fosse necessário para me encontrar, estava ao telefone e eu não sabia o que dizer-lhe.
(…)
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