Livro: «Verão em Baden-Baden», de Leonid Tsípkin (Gótica, 215 pp.)
A imortalidade
O romance que deslumbrou Susan Sontag, ao ponto de considerá-lo uma das «obras mais belas, exaltantes e originais» da literatura do século XX. Bastam as primeiras frases para se perceber a razão desse deslumbramento. Frases longas, onde se respira.
Leonid Tsípskin não viveu o tempo suficiente para assistir à publicação em livro de «Verão em Baden-Baden». Morreu em 1982, no dia em que completava 66 anos, vítima de um ataque cardíaco. Era um conceituado investigador na área da Medicina, mas em 1977, quando o filho e a nora conseguiram vistos de saída da então URSS, foi despromovido para investigador principiante, vendo o salário reduzido em 75%. É nesta altura que Tsípkin começa a escrever o romance, terminando-o em 1980. Insiste em sair do país, mas recebe a informação de que nunca será autorizado a emigrar. Em Março de 1982, é informado de que deixava de pertencer ao instituto onde era então um «principiante», exactamente no mesmo dia em que, dos Estados Unidos, o filho lhe transmite a notícia de que «Verão em Baden-Baden» ia ser publicado em fascículos numa revista. O primeiro capítulo sai a 13 de Março, Tsípkin morre uma semana depois, a 20.
Estas são informações da introdução escrita por Susan Sontag, que manteve contactos com o filho e com a nora de Leonid Tsípkin, através dos quais conseguir perceber como foi a vida do escritor e como nos últimos anos ele «criou um pequeno corpo de prosa de um alcance e de uma complexidade cada vez maiores». Tsípkin escreveu pequenos textos, alguns contos e dois romances autobiográficos, «A Ponte Sobre o Norartakir» e «Verão em Baden-Baden». O filho fala da ânsia do pai por escrever, mas refere o receio que ele tinha de enviar os textos para editores ou de os mostrar a outras pessoas fora de um círculo muito restrito, para evitar problemas com o KGB ou perder o emprego.
Foi por isso sem perspectivas de vir a ser publicado que Leonid Tsípkin se dedicou à escrita nos últimos anos de vida (especialmente nos últimos 11); apenas prosa, quando em tempos já se tinha aventurado pela poesia. Talvez tenha sido a literatura o seu refúgio, mesmo sabendo que ela poderia ser apenas isso, um refúgio. E talvez nisto (ou melhor, no resultado, na sua obra) esteja a prova maior do seu amor à literatura. No caso de «Verão em Baden-Baden», isso torna-se duplamente evidente, porque a narrativa de Tsípkin acompanha um dos seus ídolos, Dostoievski (que odiava judeus). Tsípkin, filho de judeus russos, parte de comboio a caminho de Leninegrado (em tempos e de novo agora Sampetersburgo) e tira da maleta o diário de Anna Grigórievna, a jovem mulher de Dostoievski. Não se sabe quando, mas poderá ser uma data qualquer dos anos finais da vida de Tsípkin. É o começo do livro… Algumas linhas passadas, o casal Dostoievski (estão recém-casados) parte de Sampetersburgo, no ano de 1867. Depois, bom, depois é a grande literatura, a descobrir, página a página, frases que parecem não acabar, mas respira-se. Como Tsípkin, ainda hoje, sempre.
A imortalidade
O romance que deslumbrou Susan Sontag, ao ponto de considerá-lo uma das «obras mais belas, exaltantes e originais» da literatura do século XX. Bastam as primeiras frases para se perceber a razão desse deslumbramento. Frases longas, onde se respira.
Leonid Tsípskin não viveu o tempo suficiente para assistir à publicação em livro de «Verão em Baden-Baden». Morreu em 1982, no dia em que completava 66 anos, vítima de um ataque cardíaco. Era um conceituado investigador na área da Medicina, mas em 1977, quando o filho e a nora conseguiram vistos de saída da então URSS, foi despromovido para investigador principiante, vendo o salário reduzido em 75%. É nesta altura que Tsípkin começa a escrever o romance, terminando-o em 1980. Insiste em sair do país, mas recebe a informação de que nunca será autorizado a emigrar. Em Março de 1982, é informado de que deixava de pertencer ao instituto onde era então um «principiante», exactamente no mesmo dia em que, dos Estados Unidos, o filho lhe transmite a notícia de que «Verão em Baden-Baden» ia ser publicado em fascículos numa revista. O primeiro capítulo sai a 13 de Março, Tsípkin morre uma semana depois, a 20.
Estas são informações da introdução escrita por Susan Sontag, que manteve contactos com o filho e com a nora de Leonid Tsípkin, através dos quais conseguir perceber como foi a vida do escritor e como nos últimos anos ele «criou um pequeno corpo de prosa de um alcance e de uma complexidade cada vez maiores». Tsípkin escreveu pequenos textos, alguns contos e dois romances autobiográficos, «A Ponte Sobre o Norartakir» e «Verão em Baden-Baden». O filho fala da ânsia do pai por escrever, mas refere o receio que ele tinha de enviar os textos para editores ou de os mostrar a outras pessoas fora de um círculo muito restrito, para evitar problemas com o KGB ou perder o emprego.
Foi por isso sem perspectivas de vir a ser publicado que Leonid Tsípkin se dedicou à escrita nos últimos anos de vida (especialmente nos últimos 11); apenas prosa, quando em tempos já se tinha aventurado pela poesia. Talvez tenha sido a literatura o seu refúgio, mesmo sabendo que ela poderia ser apenas isso, um refúgio. E talvez nisto (ou melhor, no resultado, na sua obra) esteja a prova maior do seu amor à literatura. No caso de «Verão em Baden-Baden», isso torna-se duplamente evidente, porque a narrativa de Tsípkin acompanha um dos seus ídolos, Dostoievski (que odiava judeus). Tsípkin, filho de judeus russos, parte de comboio a caminho de Leninegrado (em tempos e de novo agora Sampetersburgo) e tira da maleta o diário de Anna Grigórievna, a jovem mulher de Dostoievski. Não se sabe quando, mas poderá ser uma data qualquer dos anos finais da vida de Tsípkin. É o começo do livro… Algumas linhas passadas, o casal Dostoievski (estão recém-casados) parte de Sampetersburgo, no ano de 1867. Depois, bom, depois é a grande literatura, a descobrir, página a página, frases que parecem não acabar, mas respira-se. Como Tsípkin, ainda hoje, sempre.
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