sábado, 10 de março de 2007

Justificar os ordenados

Paulo Bento, como há dias referi, agora deu-lhe para a asneira. Citado pelo «Record», disse que «considera que a melhor forma dos [de os] jogadores leoninos ultrapassarem o incómodo de ver os vencimentos divulgados na imprensa» seria «’justificarem em campo aquilo que ganham’».
Imaginemos então que justificavam já com o Estrela da Amadora. Por exemplo, uma equipa habitual de Paulo Bento… Ricardo (Rui Patrício aos 80 minutos); Caneira, Polga (Miguel Veloso aos 89 minutos), Tonel e Tello; Custódio (cap.), João Moutinho, Romagnoli e Nani (Carlos Martins aos 20 minutos); Liedson e Bueno.
Imagine-se o que poderia acontecer no jogo de hoje, se todos justificassem o que ganham… Poderia o Sporting ganhar, por exemplo, por seis a um? Talvez. E as notas seguintes, poderiam elas ser bem mais do que apenas um sonho? De novo talvez.
- Liedson (110.000 euros): cinco minutos em campo, dois golos; pode-se perguntar o que teria acontecido ao Estrela da Amadora se o árbitro não lhe tivesse dado ordem de expulsão.
- Bueno (73.000 euros): foi um autêntico leão; sozinho no ataque depois do vermelho a Liedson (amarelo a festejar o primeiro golo aos três minutos tirando a camisola, segundo amarelo e consequente vermelho por ter tirado os calções no segundo, aos cinco minutos, ainda por cima com um estádio cheio de mulheres); mesmo sozinho, Bueno desbaratou a defesa adversária, marcou um golo e ainda atirou três bolas ao poste e uma à barra; não se percebe como é que era suplente de Pauleta em Paris.
- Nani (12.000 euros): mais uma vez ficou a perceber-se por que é que ninguém concorda com a sua inclusão no plantel; vinte minutos em campo quase sem tocar na bola; bem substituído por Carlos Martins (30.000 euros, exibição agradável).
- Romagnoli (66.000 euros): o maestro da equipa e o ídolo dos adeptos; passa muita coisa por ele na equipa do Sporting (além de euros, obviamente).
- João Moutinho (32.000 euros): tarda a afirmar-se na equipa; pouco aplicado, mais uma vez ouviu alguns assobios das bancadas, mas tem a desculpa de desta vez a assistência ter sido maioritariamente feminina.
- Custódio (26.000 euros): mesmo com o seu habitual receio em aventurar-se para terrenos mais avançados, foi o capitão de que a equipa precisava (autoritário, enérgico, lutador, carismático); por vezes fica a sensação de que compensa aquilo que não joga com aquilo que manda os outros jogarem.
- Tello (25.000 euros): cumpriu na defesa e ainda desceu algumas vezes pelo seu corredor, causando algum embaraço na defesa adversária.
- Tonel (24.000 euros): certas limitações foram sempre compensadas pela presença do seu brilhante colega do eixo da defesa.
- Polga (54.000 euros): como diria Rui Oliveira e Costa, «empolgante»; anulou o ponta-de-lança do Estrela da Amadora, disfarçou as limitações de Tonel, construiu jogadas capazes de deixar envergonhado, por exemplo, Ricardo Carvalho, e em duas das múltiplas descidas ao ataque marcou dois golos (cabeceamento num canto e remate de longe depois de uma cavalgada de uns bons cinquenta metros); substituído a um minuto do fim para a ovação merecida (não se percebe como na altura da sua contratação houve dúvidas entre o brilhante Polga e um outro central brasileiro, Anderson, um jogador limitadíssimo, embora esforçado, que Scolari levou ao mundial de 2002).
- Caneira (68.000 euros): simplesmente fantástico (raça, velocidade, brilhantismo, técnica, magia…); anulou o extremo esquerdo da Amadora, ajudou no centro da defesa e desceu pelo seu corredor como uma autêntica gazela, sem falhar nem um dos centros que fez (várias dezenas); duas cerejas no topo do bolo desta exibição, o golo depois de driblar seis adversários e picar a bola por cima do guarda-redes e a grande penalidade que converteu de forma irrepreensível (como Panenka na final do Europeu de 1976 e Hélder Postiga contra a Inglaterra em 2004); percebe-se agora por que é que o Valência mandou este genial futebolista para um campeonato obscuro como o português, a ver se assim (longe dos olhares dos grandes da Europa) o consegue manter nos seus quadros.
- Ricardo (75.000 euros): pouco ou nenhum trabalho (tinha à sua frente o intransponível Polga); substituído a dez minutos do fim porque (segundo depois confessou) já estava um pouco enervado com os piropos das milhares de fãs que tinha nas bancadas; o seu substituto (Rui Patrício, 2.000 euros) não chegaria a tocar na bola (até à saída de Polga o Estrela da Amadora nem se aproximou da baliza do Sporting, mas depois – com Caneira fora do campo a receber assistência – aconteceu algo que ninguém poderia imaginar, já nos descontos um jogador amadorense isolou-se e o jovem guarda-redes desmaiou de susto, sofrendo o Sporting um golo, ou melhor, um auto-golo, porque Tonel ainda empurrou a bola para a própria baliza depois do remate do adversário); nas bancadas comentava-se que até se compreendia tantos nervos numa estreia, ainda por cima com a idade de júnior, mas que se tivesse sido o brilhante Ricardo a estrear-se, nem que fosse com a idade de juvenil, até uma grande penalidade haveria de defender.
Bom, resultado final… Sporting – 7, Estrela da Amadora – 1 (Liedson 2, Bueno, Polga 2, Caneira 2; Tonel na própria baliza).
Uma nota mais… Em relação a Paulo Bento não se conseguiu perceber se teve ou não mérito nesta estrondosa vitória (o seu salário não foi divulgado, nem o do seu treinador principal que faz o papel de adjunto). Já Filipe Soares Franco, esse sim, esse teve mérito, pelo que se imagina que ganha por ser presidente do Sporting (Carlos Freitas, Rui Meireles, Miguel Salema Garção e outros com cargos parecidos no clube – sade? – também deverão ter tido algum mérito).

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