sábado, 24 de março de 2007

Borges ou Maradona?

Há uns anos fui a Madrid fazer uma entrevista a Jorge Valdano, então director desportivo do Real Madrid. Foi uma entrevista sobre gestão e liderança, e acabou por ficar bem longa. A certa altura a conversa passou pela literatura – eu tinha acabado de ler uma colectânea de contos editada em Portugal pela Relógio d’Água, e Valdano era um dos participantes. Deixo a seguir essa pequena parte da entrevista…
Há um conto seu, numa colectânea em que participam escritores famosos, no qual fala de um guarda-redes que defendeu um penalty no último minuto de um jogo, mas que depois entrou na baliza para ir buscar o boné, levando a bola bem segura nas mãos... Isso aconteceu mesmo ou foi você que inventou?
Eu ouvi contar isso desde pequeno, mas não é uma situação real.
De qualquer forma, seria uma situação possível no futebol...
Sim, por isso a contei. Uma das muitas histórias de perdedores... Mostra as duas faces do futebol em poucos segundos, o herói e o proscrito.
Como se sentiu no meio de uma parada de estrelas da literatura? Foi mais difícil do que jogar ao lado de Maradona ou Burruchaga, por exemplo?
Bom, o futebol é o meu mundo…
Todos aqueles escritores adoram futebol. Javier Marías, Alfredo Brice Etchnique...
Eu sinto-me muito bem com eles. Tenho muitos amigos na literatura, de todas as gerações. Sinto-me muito bem no meio de gente como Mario Benedetti, Francisco Umbral, Manuel Vásquez-Montalban...
Javier Marias é do Real Madrid...
Sim, é adepto do Real Madrid.
...
A verdade é que eu gosto muito de escrever, mas gosto ainda mais de ler. Enfim, se tivesse de escolher entre ser Borges ou ser Maradona, haveria sempre de optar por ser Maradona.

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