Ouvi na rádio, há dois ou três dias, a partir de uma notícia creio que do «Público»: a Brigada de Trânsito perdoa as multas a carros do Estado. Polícias, malta dos ministérios, da Assembleia da República, do governo, das câmaras, tudo a abrir e sem problemas. Numa entrevista que acompanhou a notícia da rádio, o costumeiro «responsável» lá apareceu a dizer que não era verdade, e inclusive falou de como se processava a actuação dos agentes, mas acabou por meter os pés pelas mãos e fazer figura de urso; deu bem para perceber o que na verdade acontece um pouco por todo o país.
Aproveito para contar um caso de há uns tempos, um bocadinho diferente, pois meteu um assalariado do Estado só que em viatura própria. Foi em Monchique, bem no interior da serra algarvia, numa noite em que participei num jantar em que também esteve um deputado da costa eleito pela região sem saber bem para fazer o quê. Era a noite de um de Dezembro e o jantar acabou já no dia dois, aí pela uma e tal. Foi precisamente no dia dois, ao fim da manhã, que vim a saber que uma brigada da GNR tinha feito parar o deputado, a cerca de um quilómetro do local do jantar, retardando-lhe assim o seu regresso à costa. Não estranhei a situação, até porque eu próprio encontrei a referida brigada. Também tive de parar. Mostrei os documentos, carta, título de propriedade, seguro, bilhete de identidade, enfim, tudo. E tive o carro inspeccionado de uma ponta à outra, a olho, obviamente, mas inspeccionado.
O que me deixou pasmado foi o que contou o deputado. Sim, foi obrigado a parar, como qualquer automobilista, e foram-lhe pedidos os documentos. E ele nem perdeu tempo, sacou da carteira e zás, entregou os documentos todos. Até o cartão da Assembleia da República entregou, com a palavra «deputado» bem visível. Foi o suficiente para abreviar as coisas. O guarda, «um rapazito novo», segundo o deputado, mal viu aquilo ficou num tal estado de atrapalhação que nem quis saber de mais nada. «Siga, siga», e o deputado seguiu. Mesmo deputado, e mesmo a caminho de ser secretário de Estado daí a uns meses, tinha mais era que cumprir a ordem da autoridade.
Depois de ouvir o sucedido, ainda disse para comigo: «Olha se eu fosse deputado...» Tentei até imaginar-me na Assembleia da República, mas por mais que tentasse não consegui.
Aproveito para contar um caso de há uns tempos, um bocadinho diferente, pois meteu um assalariado do Estado só que em viatura própria. Foi em Monchique, bem no interior da serra algarvia, numa noite em que participei num jantar em que também esteve um deputado da costa eleito pela região sem saber bem para fazer o quê. Era a noite de um de Dezembro e o jantar acabou já no dia dois, aí pela uma e tal. Foi precisamente no dia dois, ao fim da manhã, que vim a saber que uma brigada da GNR tinha feito parar o deputado, a cerca de um quilómetro do local do jantar, retardando-lhe assim o seu regresso à costa. Não estranhei a situação, até porque eu próprio encontrei a referida brigada. Também tive de parar. Mostrei os documentos, carta, título de propriedade, seguro, bilhete de identidade, enfim, tudo. E tive o carro inspeccionado de uma ponta à outra, a olho, obviamente, mas inspeccionado.
O que me deixou pasmado foi o que contou o deputado. Sim, foi obrigado a parar, como qualquer automobilista, e foram-lhe pedidos os documentos. E ele nem perdeu tempo, sacou da carteira e zás, entregou os documentos todos. Até o cartão da Assembleia da República entregou, com a palavra «deputado» bem visível. Foi o suficiente para abreviar as coisas. O guarda, «um rapazito novo», segundo o deputado, mal viu aquilo ficou num tal estado de atrapalhação que nem quis saber de mais nada. «Siga, siga», e o deputado seguiu. Mesmo deputado, e mesmo a caminho de ser secretário de Estado daí a uns meses, tinha mais era que cumprir a ordem da autoridade.
Depois de ouvir o sucedido, ainda disse para comigo: «Olha se eu fosse deputado...» Tentei até imaginar-me na Assembleia da República, mas por mais que tentasse não consegui.
3 comentários:
Caro escritor: esta é a prova acabada de que ao mundo, gerado com intenção ou por mero acaso ou mesmo azar, vem filho de muita mãe. Uns nascem já com o epíteto e habituamo-nos a vê-los e chamá-los dessa forma durante toda a sua vida. Outros ganham o epíteto por força do exercicio das suas funções e aquele acompanhá-los-á durante toda a sua opulenta existência.Respeito mais o primeiro do que o segundo. Seja como for são ambos filhos de uma mãe que gostva de variar! E se estas linhas não se entendem também não importa, até porque, neste mundo, pouca coisa vale realmente a pena. Um abraço.
Tenho uma amiga que também nunca tem problemas quando a mandam parar (não que faça algo de errado, porque duvido): basta mostrar o BI, que é azul (penso) por pertencer à Marinha. Também a despacham logo! :p
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